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Italiano 'mata' personalidades na internet para denunciar imprensa

Agência France-Presse
postado em 04/01/2013 17:27
Roma - A escritora JK Rowling, Mikhail Gorbachev, Fidel Castro e o Papa já foram mortos em mensagens falsas de 140 caracteres pelo italiano Tommasso Debenedetti, que, com isso, pretende denunciar a fragilidade da imprensa e das redes sociais.

A última vítima deste italiano de cerca de 40 anos, que diz ser professor de literatura, foi a autora da saga do bruxinho Harry Potter.

Tommasso Debenedetti criou na semana passada uma falsa conta no Twitter utilizando o nome do mestre da espionagem John Le Carré. "Quando vi que ele era seguido por 2.500 pessoas, incluindo jornalistas de grandes publicações inglesas e alemãs, decidi fazer com que Le Carré dissesse que JK Rowling havia morrido em um acidente", explicou à AFP.

Segundo Debenedetti, a mensagem foi reenviada centenas de vezes e uma emissora de televisão chilena chegou a noticiar a informação falsa.

Para o italiano, o objetivo da manobra é "mostrar que o Twitter se transformou em uma agência de notícias... e a menos confiável do mundo", explica.

"Infelizmente, o jornalista funciona sobre a velocidade. Uma informação falsa é difundida exponencialmente e quando, por exemplo, um jornalista do New York Times reenvia uma mensagem de Twitter, dá a ela uma credibilidade, mesmo que não a publique. No final das contas, todo mundo esquece a fonte original", argumenta.

Para Tommasso Debenedetti a falsa morte da escritora não se tratou de um teste. Com suas mensagens de 140 caracteres, dezenas de personalidades "morreram prematuramente", segundo a expressão de Mark Twain, já que "tuitar funciona muito bem com a morte".

Debenedetti se gaba de ter obrigado o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, a desmentir a morte do Papa após uma mensagem no Twitter atribuída ao cardeal Tarcisio Bertone, número dois da Santa Sé. Ele também diz ter feito os preços do petróleo disparar após anunciar a morte do presidente sírio Bashar al-Assad, ou ainda ter provocado a atualização da página Wikipedia dedicada a Gorbachev com a data de seu falecimento.

Será que esses "jogos", estas "brincadeiras", não causam danos graves às vítimas? "Eu só faço com personalidades de primeira ordem, que têm todos os meios necessários para desmentir tais informações de forma rápida. Nunca vou anunciar a morte de um escritor de segunda ordem ou do meu vizinho", defendeu.



Além disso, Debenedetti afirma que sempre desmente a informação falsa dentro de uma hora após a primeira mensagem. "Eu não quero ir além da bolha midiática. Não sou um bandido", insiste, mesmo que tenha a seu crédito várias páginas falsas do Facebook com nomes como Umberto Eco e Mario Vargas Llosa, a quem atribui declarações inverossímeis.

"Eu quero mostrar a fragilidade dos meios de comunicação social, onde qualquer um pode ser qualquer coisa. É um risco enorme que eu denuncio", insistiu convidando jornalistas a ser "mais prudentes, a proceder com todas as verificações necessárias, especialmente em pequenas mídias, pequenas rádios ou sites que facilmente podem cair na armadilha".

Verificar as informações? Debenedetti sabe do que fala. Neto de um crítico literário conhecido na Itália, Tommaso Debenedetti é o autor de várias entrevistas de escritores famosos publicadas em jornais italianos como o La Nazione, Libero ..., todas inventadas.

Foi só quando jornalistas americanos questionaram Philip Roth sobre suas (falsas) declarações anti-Obama que Debenedetti reconheceu a fraude.

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