Agência France-Presse
postado em 06/01/2013 14:36
Cairo - O presidente egípcio, Mohamed Mursi, anunciou neste domingo um novo governo para enfrentar a grave crise econômica, um dia antes de retomar as negociações com o FMI para conseguir um empréstimo crucial para o país, mas que pode acarretar reformas drásticas.Dez novos ministros, quase um terço do governo, que continuará sendo liderado pelo primeiro-ministro Hicham Qandil, prestaram juramento nesta manhã, perante o chefe de Estado.
Al-Mursi Al-Sayed Hegazy, especialista em finanças islâmicas ligado à Irmandade Muçulmana, organização à qual Mursi pertence, substituirá o ministro das Finanças, Momtaz al-Said, homem-chave nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para conseguir um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares.
Said foi muito criticado nos últimos dias pelos líderes da Irmandade Muçulmana, que reprovam sua proximidade dos ex-dirigentes militares que estiveram no poder por quase um ano e meio após a queda, em fevereiro de 2011, de Hosni Mubarak.
O ministério do Interior ficará nas mãos do general Mohamed Ibrahim, que era um dos adjuntos do até agora ministro da pasta, Ahmed Gamaledin.
Segundo vários jornais, a substituição de Gamaledin é consequência de sua falta de rigidez nas manifestações de dezembro contra o referendo sobre uma nova Constituição, durante as quais vários locais da Irmandade Muçulmana foram atacados.
Um total de oito ministérios técnicos, quase todos relacionados à economia, também mudaram de líder: "Transportes, Eletricidade, Desenvolvimento Regional, Aviação Civil, Meio Ambiente, Fornecimento, Comunicações e Relações Parlamentares.
Mursi anunciou esta reformulação do governo no dia 26 de dezembro, depois de adotar a nova Constituição, e explicou que queria um governo mais preparado para enfrentar a crise econômica vivida pelo país.
Negociações com o FMI
Há dois anos, a economia egípcia tem um déficit que aumenta, combinado com a queda da moeda nacional, a libra egípcia, a diminuição do turismo e o afundamento dos investimentos estrangeiros.
Ao mesmo tempo, o Banco Central viu suas reservas caírem de 36 bilhões para 15 bilhões de dólares, nível que a instituição classificou, na semana passada, de crítico. Desde então, autoridades aplicam medidas para limitar a saída de divisas do país.
O novo ministro das Finanças terá que retomar, o quanto antes, as negociações com o FMI para conseguir um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares, pré-acordado em novembro, mas suspenso devido às tensões políticas no Egito.
O Cairo quer retomar rapidamente as negociações, e o FMI anunciou a visita ao país, na segunda-feira, de seu responsável para o Oriente Médio, Masood Ahmed, para falar sobre as dificuldades econômicas do Egito e um possível apoio, segundo um comunicado da instituição.
O empréstimo do FMI é considerado decisivo para recuperar a confiança na economia egípcia, conseguir novos apoios internacionais e ajudar o país a sanear suas contas.
No entanto, o governo é cauteloso diante da perspectiva de que o FMI imponha reformas drásticas e impopulares em troca do empréstimo, em particular um possível corte dos caros subsídios do Estado aos combustíveis e aos alimentos básicos.
Em dezembro, em plena crise política, e sob pressão em seu próprio campo, o presidente egípcio precisou adiar precipitadamente aumentos de impostos sobre muitos produtos que teriam contribuído para sanear as finanças públicas, mas que teriam provocado tensões sociais.