Agência France-Presse
postado em 06/01/2013 14:53
Caracas - Com a decisão de seguir à frente do governo venezuelano, à espera do fim da incógnita sobre se Hugo Chávez estará em condições de reassumir a presidência, seu sucessor designado, o vice-presidente Nicolás Maduro, reforça sua liderança diante de eventuais presidenciais antecipadas, segundo analistas."Para o chavismo, é fundamental que, se Maduro for o candidato em uma eleição presidencial pela saída de Chávez, o faça da posição de chefe de Estado ou de uma posição vantajosa, de aura de poder e de controle de todas as instituições", afirmou à AFP o analista político Luis Vicente León, diretor da consultoria Datanálisis.
Antes de partir para Cuba, Chávez "delegou, sem entregá-lo", o comando político a Maduro, e disse que, se estivesse incapacitado para governar, seu sucessor assumiria a presidência temporária até o fim do mandato, no dia 10 de janeiro, e também seria o candidato do governista PSUV nas eleições presidenciais que deveriam ser realizadas em 30 dias.
O presidente, 58 anos, delegou importantes poderes econômicos ao também chanceler, como decretar créditos adicionais ao orçamento nacional e expropriar bens, entre outras tarefas.
Neste sábado, Maduro afirmou que seguirá em seu cargo além de 10 de janeiro, inclusive se o presidente, hospitalizado há mais de três semanas e sofrendo de insuficiência respiratória, não puder tomar posse neste dia perante a Assembleia Nacional, como dita a Constituição.
"Eu sigo em funções, e algum dia, quando houver a possibilidade, irá me juramentar", disse Maduro, reafirmando que o governismo, aplicando também a Carta Magna, resolveu esperar que Chávez, reeleito em outubro, esteja em condições de assumir seu terceiro mandato de seis anos perante o Supremo Tribunal de Justiça.
"Penso em Chávez como presidente", disse na sexta-feira Maduro, 50 anos, confiante em que o chefe de Estado retornará, e negando ter ambições pessoais de assumir a liderança do Estado.
Maduro, um ex-sindicalista do Metrô de Caracas e motorista de ônibus, ocupa o cargo de chanceler desde 2006, e, em outubro, assumiu também a vice-presidência, decisão de Chávez que o ratificou como seu sucessor.
Nas últimas semanas, à medida que o governo foi informando a conta-gotas a evolução do estado de saúde de Chávez, operado pela quarta vez de um câncer, Maduro foi o rosto mais visível do chavismo, protagonizando diversos atos públicos e entrevistas a meios de comunicação venezuelanos e regionais.
Maduro "está tentando deixar claro que há um testamento político ditado pelo presidente, e que ele é o herdeiro (...) porque precisa que o reconheçam como tal", explicou à AFP a jornalista e colunista venezuelana Luz Mely Reyes.
A Constituição estabelece que, em caso de falta absoluta do presidente, que poderia ocorrer com sua morte, incapacidade física permanente ou renúncia, devem ser convocadas eleições em 30 dias.
Maduro seria, segundo o designado por Chávez, o candidato do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), disputando, provavelmente, com o líder opositor Henrique Capriles, que perdeu as eleições de outubro para Chávez.
Mas Reyes também advertiu que a decisão do vice-presidente de continuar em seu cargo depois de 10 de janeiro sem a posse de Chávez é "um desafio para a governabilidade" da Venezuela.
"O período constitucional (2007-2013) termina à meia-noite de 9 de janeiro", ressaltou Reyes à AFP.
Líderes opositores também criticaram que ele possa permanecer no cargo: "Nosso ponto é que o vice-presidente não pode seguir em funções, porque já seria do governo anterior", disse neste sábado Julio Borges, coordenador nacional do partido Primeiro Justiça, de Capriles.
Mas para León, a oposição venezuelana não tem força para impedir que o governo siga adiante com a ideia de manter o atual governo em funções se Chávez não tomar posse na quinta-feira.
A oposição está "articulada apenas eleitoralmente", e não pode "se proteger ou se defender de um governo todo-poderoso, armado, rico, com o controle institucional do país", disse a analista.