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Três mulheres ligadas ao Partido Curdistão são encontradas mortas em Paris

Paris - A comunidade curda na França está em choque após a morte de três ativistas com tiros na cabeça quarta-feira (9/1) em Paris.

As mulheres eram ligadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), sendo uma delas próxima ao líder deste movimento separatista armado, Abdullah ;calan, preso na Turquia.

O presidente francês François Hollande chamou de "horrível" as mortes, acrescentando que este caso o atinge "diretamente" porque conhecia uma das vítimas.

Centenas de curdos protestaram durante esta quinta-feira em Paris e Marselha (sul), acusando Ancara como sendo responsável pela morte das militantes.

"Três mulheres foram baleadas, mortas, provavelmente executadas. Este é um assunto sério, daí a minha presença. Isto é totalmente inaceitável", havia declarado antes no local do crime o ministro francês do Interior, Manuel Valls, que assegurou a "determinação das autoridades francesas" em "esclarecer este ato completamente insuportável".

A investigação será realizada pela polícia anti-terrorismo.

Segundo a Federação das Associações Curdas da França, as vítimas são Dogan Fidan, presidente do Centro de Informação curdo, Sakine Cansiz, descrita como "uma das fundadoras do PKK" (Partido dos Trabalhadores do Curdistão, proibido na Turquia) e Leyla Soylemez uma "jovem ativista".

De acordo com Dorothée Schmid, do Instituto Francês das Relações Internacionais (Ifri), Sakine Cansiz era muito próxima do líder dos rebeldes curdos, Abdullah ;calan.

Centenas de curdos se reuniram em frente ao prédio aos gritos de "Elas não estão mortas", "Somos todos PKK", "Turquia assassina, Holanda cúmplice" e agitando bandeiras com a imagem do líder preso na Turquia.

"Há anos, nos assassinam. Essas pessoas que foram mortas eram refugiadas políticas. Isso quer dizer que, mesmo em um país como a França não estamos protegidos", denunciou Edip Gultekin, de 32 anos.

Os gritos de protesto se intensificaram quando os três corpos foram retirados do local do crime. Uma faixa indicava em curdo: "Nós nos vingaremos".

Tiros na nuca

Acerto de contas entre membros do movimento curdo, ação do movimento de extrema-direita turco "Lobos cinzas": várias são as possibilidades, segundo um especialista do movimento curdo na França.

De acordo com o depoimento de Leon Edart, presidente da Federação das Associações Curdas, as três mulheres ficaram sozinhas quarta-feira à tarde na sede do centro de informações no primeiro andar de um edifício localizado na rua Lafayette, em Paris.

No final da tarde, um membro da comunidade tentou, em vão, encontrá-las. Ele chegou a ir ao local, mas não tinha as chaves e não conseguiu entrar no prédio.

Segundo a Federação dos Curdos da França, alguns amigos preocupados foram ao local. Eles teriam visto vestígios de sangue na porta e então arrombaram a entrada. Eles encontraram os três corpos à 01h00 (22h00 de quarta-feira em Brasília), de acordo com a fonte.

Duas das mulheres foram mortas com um tiro na nuca, a terceira apresentava lesões no estômago e na testa, de acordo com a federação.

Nas montanhas de Qandil (Curdistão iraquiano), um porta-voz do PKK declarou à AFP que seu movimento não irá se pronunciar enquanto a investigação da polícia não for concluída.

Na Turquia, o Partido pela Paz e a Democracia (BDP), principal partido curdo, exigiu esclarecimentos imediatos da França, convocando manifestações contra este "massacre".



Em Ancara, o vice-primeiro-ministro e porta-voz do governo, Bülent Arinç, denunciou uma "atrocidade", mas o vice-presidente do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, braço do movimento islâmico), no poder, Huseyin Celik, declarou que a morte das três ativistas curdas parece ser um "acerto de contas" dentro do PKK.

"Nós sabemos que existem dissensões, divisões dentro do PKK", disse ele, especulando que este caso pode estar ligado ao recente processo de diálogo iniciado pelos serviços secretos turcos com o líder preso do PKK, Abdullah ;calan, com o objetivo de desarmar os rebeldes curdos.

O conflito curdo já custou a vida de mais de 45.000 pessoas desde que os rebeldes do PKK pegaram em armas, em 1984.

Em várias ocasiões, a justiça francesa investigou casos envolvendo a comunidade curda, principalmente o financiamento do PKK através de extorsão ou coleta do "imposto revolucionário".

Na França, os curdos representam uma população de mais de 150.000 pessoas, das quais quase 90% são curdos da Turquia, de acordo com um estudo realizado em 2006 por Rusen Werdi, especialista do Instituto Curdo de Paris.