Agência France-Presse
postado em 10/01/2013 18:52
Damasco - A Síria fez fortes críticas nesta quinta-feira (10/1) a Lakhdar Brahimi, sem entretanto fechar a porta para ele, na véspera de um encontro na sexta-feira (11) entre o mediador internacional e os representantes russo e americano.Moscou reafirmou que as negociações passam por um diálogo entre o poder e a oposição, sem condições prévias, ao contrário dos rebeldes e dos ocidentais, que exigem a saída do presidente Bashar al-Assad.
Paralelamente, Londres pediu medidas mais enérgicas contra o regime sírio, em particular a suspensão do embargo de armas, para que os rebeldes recebam armamentos.
"As declarações de Lakhdar Brahimi mostram sua parcialidade flagrante em favor dos círculos (que conspiram) contra a Síria e o povo sírio", afirmou uma autoridade do Ministério das Relações Exteriores citado pela rede de televisão oficial.
No entanto, Damasco de recusou a romper com o mediador internacional. "A Síria ainda espera o êxito de sua missão e continuará a cooperar com ele", indicou a autoridade.
Em uma entrevista concedida na quarta-feira à BBC, Brahimi, emissário da ONU e da Liga Árabe para a Síria, havia considerado que o plano de saída da crise apresentado domingo pelo chefe de Estado sírio é "ainda mais sectário e parcial" do que os anteriores.
Nomeado em setembro de 2012 para substituir Kofi Annan, que tinha jogado a toalha, Brahimi vinha satisfazendo Damasco por nunca ter pedido explicitamente a saída de Assad. Mas ele é acusado de ter se deixado influenciar pelos países ocidentais, pela Turquia e pelos países do Golfo que querem a saída do chefe de Estado.
A imprensa síria, nas mãos do regime, deu o tom. "Ele deixou de lado a máscara da imparcialidade que usava desde que foi nomeado para substituir Kofi Annan e revelou sua verdadeira face, (...) para atender às exigências de seus mestres", indicou o Al-Watan.
O plano apresentado por Assad foi condenado pelos países ocidentais e rejeitado tanto pela oposição no exílio quanto pela tolerada pelo regime dentro do país.
Essas virulentas críticas ocorrem na véspera do encontro em Genebra entre Brahimi e os representantes russo e americano para tentar encontrar meios de pôr fim a um conflito que já deixou mais de 60.000 mortos em 21 meses, de acordo com a ONU.
Mas os russos, aliados da Síria, se mantiveram firmes. "Apenas os sírios podem decidir o modelo de desenvolvimento de longo prazo de seu país", declarou nesta quinta-feira o porta-voz do Ministério russo das Relações Exteriores, Alexandre Loukachevitch.
O chanceler britânico, William Hague, considerou nesta quinta que, se a situação na Síria se agravar ainda mais, a resposta da comunidade internacional deve ser "revisada para cima".
Ele reiterou que Londres vai pedir para que o embargo europeu de armas imposto à Síria seja modificado para permitir armar os rebeldes caso seja necessário, quando a UE reavaliar as sanções contra Damasco em 1; de março.
No Cairo, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Ali Akbar Salehi, pediu nesta quinta que os países vizinhos da Síria favoreçam uma solução política e impeçam qualquer ingerência externa.
Na frente de batalha, a aviação síria efetuou vários ataques nesta quinta-feira de manhã contra uma base aérea no noroeste do país para tentar conter o avanço dos rebeldes, que tomaram mais da metade do local, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
No subúrbio de Damasco, sob neve, o Exército também efetuou ataques aéreos, enquanto combates eram travados em Sayeda Zaineb, lugar de peregrinação xiita, segundo a mesma fonte.
O Unicef lançou um pedido urgente por doações para os sírios refugiados afetados pelo frio no campo de Zaatari na Jordânia, atingido por chuvas torrenciais, e a agência missionária do Vaticano Fides indicou que cerca de mil cristãos estão passando necessidade presos entre o Exército e os rebeldes na aldeia de Yaakoubieh, no norte de Aleppo.
Nesta mesma região, a Síria acusou seu vizinho turco de saquear suas fábricas e pediu que a ONU aja para acabar com o que ela classificou de "ato ilegal de agressão que se assemelha ao de pirataria".