Agência France-Presse
postado em 15/01/2013 13:43
Damasco - O presidente sírio, Bashar al-Assad, poderá disputar mais um mandato à frente da Síria em 2014, principalmente com o apoio de um Exército leal que intensifica ataques e bombardeios em um conflito que parece não ter saída após 22 meses de violência.
Na Universidade de Aleppo, no norte da Síria, pelo menos 15 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas em uma explosão de causa ainda não revelada, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). A televisão estatal síria relatou um "ataque terrorista na Universidade de Aleppo", localizada em uma parte da cidade controlada pelo Exército, citando "vítimas".
Enquanto a oposição exige que Assad deixe a presidência, o vice-ministro das Relações Exteriores, Moqdad Jihad, afirmou em uma entrevista à BBC que o presidente poderia legitimamente se candidatar à presidência em 2014. "Por que excluí-lo? A diferença é que agora o presidente e os outros candidatos devem se apresentar ao povo, apresentar suas propostas e ser eleitos pelo povo", declarou.
Desde que o Partido Baath chegou ao poder, há meio século, um único candidato se apresenta às eleições sírias, primeiro Hafez Assad e, em seguida, seu filho Bashar, em 2000. Os mandatos são de sete anos e, segundo a Constituição aprovada em fevereiro de 2012, o atual chefe de Estado tem o direito de se candidatar duas vezes a partir de 2014. Poderia, assim, governar até 2028, totalizando 28 anos de poder.
Para Moqdad, "há vinte anos que alguns círculos tentam mudar a direção da Síria com conhecidos objetivos políticos. Isso não vai acontecer", acrescentou. "Por que excluir X ou Y do processo democrático?", lançou, argumentando que excluir alguém "não é democracia, mas uma pseudo-democracia".
[SAIBAMAIS]O presidente se recusa a ceder sobre esta questão. Segundo várias fontes, Assad impõe como condição para uma transição no país a possibilidade de que seja candidato a sua própria sucessão. O jornal Al-Watan, ligado ao poder, informou em sua edição de domingo que Bashar al-Assad colocou um ponto final nesta discussão em sua reunião com o mediador internacional, "que se atreveu a questionar as candidaturas durante as eleições de 2014".
O Al-Watan indicou ainda que durante a reunião, Assad garantiu não ser "o capitão que pula do navio à deriva". A Rússia, principal aliada do regime, indicou no domingo que a saída do presidente não está incluída em acordos internacionais e considerou ser "impossível sua aplicação".
"Nossos parceiros estão convencidos de que é necessário de antemão expulsar Bashar al-Assad do processo político. Este é um pré-requisito que não está contido na declaração de Genebra (adotada em junho pelas grandes potências) e que é impossível de implementar, porque não depende de ninguém", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.
Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU devem se reunir no final de janeiro para discutir a questão síria, provavelmente no mesmo momento da apresentação de um relatório pelo enviado internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, indicou um diplomata russo na segunda-feira.
No terreno, a violência continua. Mais de 60 mil pessoas morreram desde o início de uma revolta, em meados de março, que se transformou em um conflito armado contra a repressão do regime. Em Aleppo, a origem de uma explosão na universidade da cidade permanece desconhecida.
Militantes anti-regime afirmam se tratar de um bombardeio aéreo, enquanto uma fonte militar garante que a explosão foi provocada por um míssil terra-ar disparado pelos rebeldes que erraram seu alvo atingindo o campus. Outras fontes relatam um carro-bomba. Pelo menos 47 pessoas morreram nesta terça-feira na Síria, incluindo 12 em Houla (centro), alvo de um ataque com artilharia pesada do Exército, de acordo com o OSDH.