Agência France-Presse
postado em 17/01/2013 14:13
Argélia - A crise dos reféns no campo de exploração de gás de In Amenas arrastou a Argélia para o centro do conflito do Mali, apesar de sua oposição à intervenção militar, com o sequestro de dezenas de estrangeiros na esteira de sua decisão de fornecer apoio logístico para a França.As autoridades argelinas insistiram por um longo tempo em uma solução política para a crise no Mali, mas finalmente autorizaram o sobrevoo de aviões de combate franceses para apoiar uma ofensiva terrestre destinada a expulsar extremistas islamitas do norte do país.
O ataque mortífero na madrugada de quarta-feira, no qual extremistas ligados à Al-Qaeda afirmaram ter sequestrado 41 estrangeiros, a maioria deles proveniente de países ocidentais, ocorreu em um importante campo de exploração de gás no sudeste da Argélia operado pela gigante britânica BP, pela norueguesa Statil e pela argelina Sonatrach.
Nesta quinta-feira, meios de comunicação estatais informaram que 15 reféns estrangeiros e 30 argelinos que eram mantidos reféns conseguiram escapar de seus sequestradores.
Posteriormente, em uma ofensiva do exército argelino, muitos outros reféns foram mortos, assim como vários dos sequestradores, em um balanço que não parava de subir.
"Este sequestro não é um aviso apenas para os países ocidentais, mas também para a Argélia, que abriu seu espaço aéreo para os aviões militares franceses", afirmou Chafik Mesbah, ex-oficial do exército argelino, em entrevista ao jornal local Echorouk.
"É um duro golpe para a Argélia... O objetivo pode ser envolvê-la na guerra que a França está travando no Mali", afirmou o jornal Liberty, escrito em francês.
"Isso pode estar sinalizando o início das represálias contra a Argélia, após a autorização de sobrevoo do seu território por caças Rafale franceses e a implementação da operação militar no norte do Mali", acrescentou.
Os extremistas afirmam que o ataque é uma retaliação pelo apoio da Argélia aos ataques aéreos franceses e por sua linha dura contra os jihadistas, exigindo a libertação de islamitas radicais detidos no vizinho Mali.
"Esta operação é uma mensagem política forte para a Argélia em relação as suas posições intransigentes para com os jihadistas, e uma mensagem para outros países vizinhos", disse um dos sequestradores, identificado como Abu al-Baraa, à rede de televisão por satélite Al-Jazeera.
"Nossos detentos em troca dos deles", afirmou, acrescentando que seu grupo "contactou nossa liderança no Mali".
O ministro do Interior argelino, Dahou Ould Kablia, insistiu na quarta-feira que Argel não iria negociar com os "terroristas", depois de anunciar o ataque inicial contra um ônibus que transportava engenheiros para o aeroporto, no qual duas pessoas, incluindo um britânico, foram mortas.
Seis pessoas também ficaram feridas no ataque, incluindo outros dois britânicos, um norueguês, assim como um agente de segurança da Argélia e dois policiais.
Um grupo que se autodenomina "Signatários por Sangue" reivindicou a autoria do sequestro em um comunicado publicado no site mauritano Alakhbar.
O grupo é liderado pelo combatente islâmico veterano Mokhtar Belmokhtar, um ex-líder da Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) que foi expulso do grupo no ano passado e que já foi acusado de sequestros e assassinatos anteriores tanto de argelinos quanto de estrangeiros.
"A Argélia foi escolhida para esta operação para ensinar (ao presidente Abdelaziz) Bouteflika que nunca vamos aceitar a humilhação da honra do povo argelino... ao abrir o espaço aéreo da Argélia para aviões franceses", disse o grupo.