Agência France-Presse
postado em 29/01/2013 15:29
Tombuctu - Uma multidão saqueou na manhã desta terça-feira (29/1) em Tombuctu dezenas de lojas de comerciantes árabes, acusados de serem terroristas, no momento em que os países participantes da conferência de Adis Abeba sobre o Mali se comprometeram a contribuir com 455 milhões de dólares para financiar a força militar africana e a ajuda humanitária.Em Adis Abeba, o presidente interino do Mali, Dioncounda Traoré, declarou que espera poder convocar eleições "transparentes e críveis" antes de 31 de julho.
"Quero reiterar nosso engajamento de conduzir a transição em curso no Mali com uma única agenda: a recuperação dos territórios ocupados (por insurgentes islâmicos) do norte, mas também, e sobretudo, o retorno da situação constitucional normal no Mali", assegurou Dioncounda Traoré.
Em Tombuctu, no dia seguinte à entrada dos soldados franceses e malinenses, centenas de pessoas, visivelmente muito pobres, saquearam lojas que, segundo elas, pertencem a árabes, argelinos e mauritanos acusados de terem apoiado os insurgentes islamitas vinculados à Al-Qaeda.
Em algumas lojas foram encontradas munições e rádios militares, comprovou a AFP. Mas a maioria dos saqueadores se dedicava a se apropriar de televisões, antenas parabólicas, móveis, louças e comida.
A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) havia advertido na segunda-feira sobre o "risco elevado de tensões interétnicas" no norte do Mali e solicitado que as autoridades protegessem "todos os malinenses das represálias".
Em Adis Abeba, os países participantes da conferência sobre o Mali se comprometeram a fornecer mais de 455 milhões de dólares para financiar a força militar africana e a ajuda humanitária, indicou um responsável da União Africana.
"A situação exige uma resposta internacional rápida e eficaz, já que existe um risco para o Mali, para a região, o continente e mais além", disse, por sua vez, Nkosazana Dlamini Zuma, presidente da comissão da União Africana.
Cerca de 3.500 soldados franceses e 1.900 soldados africanos, principalmente chadianos e nigerinos, estão mobilizados ao lado dos homens do Exército malinense.
No total, 8.000 soldados africanos são esperados, mas chegam a conta-gotas e sua mobilização é lenta devido aos sérios problemas de financiamento e logística.
Tombuctu continua sem rede telefônica ou eletricidade, depois que os grupos armados sabotaram as instalações antes de partirem. Os habitantes, que na segunda-feira aclamaram a entrada das tropas francesas e malinenses, seguiam sofrendo com diversos problemas materiais, entre eles falta de água potável e de alimentos.
"Tomar as montanhas"
Os testemunhos sobre a destruição de preciosos manuscritos se multiplicam em Timbuktu, que foi capital intelectual e espiritual do Islã na África entre os séculos XV e XVI.
Uma fonte malinense de segurança indicou que uma "construção que abrigava manuscritos foi queimada".
O prefeito de Timbuktu, Halley Ousmane, que estava em Bamaco, confirmou: "O centro Ahmed Baba, onde estão manuscritos valiosos, foi incendiado pelos islamitas. É um verdadeiro crime cultural".
Alguns manuscritos de Timbuktu datam da era pré-islâmica. O Instituto de Altos Estudos e de Pesquisas Islâmicas Ahmed Baba abriga entre 60.000 e 100.000 manuscritos, segundo o Ministério malinense da Cultura.
A operação em Timbuktu foi realizada dois dias após a retomada de Gao, cidade mais importante do norte do Mali e um dos redutos dos combatentes islamitas, 1.200 km a nordeste de Bamaco.
Em Anongo, 80 km ao sul de Gao, uma centena de pick-ups e 4x4 carregadas de metralhadoras e veículos blindados cheios de armas nigerianas e malinenses, vindos do Níger, entraram na cidade sob os aplausos dos habitantes.
"Deixe-me ver esses libertadores", gritava uma mulher, em meio às buzinas e cartazes celebrando o Níger, o Mali e a França, nesta cidade ocupada até pouco tempo pelos islamitas do Movimento pela Unidade e Jihad na África Ocidental (Mujao).
Após a tomada de Gao e de Timbuktu, todos os olhares se voltam para Kidal, no extremo nordeste do Mali, terceira grande cidade do norte, situada a 1.500 km de Bamaco.
[SAIBAMAIS]A cidade de Kidal estaria sob o controle dos rebeldes do Movimento Nacional para a Libertação do Azawad (MNLA) e dissidentes do grupo islamita Ansar Dine (Defensores do Islã), que formaram o Movimento Islâmico de Azarard (MIA).
Algabass Ag Intalla, líder do MIA, reafirmou à AFP sua disposição em "dialogar" e assegurou que seu movimento não quer a "independência" do norte do Mali.
"Em Kidal, se você dominar as montanhas, terá a chave. Então, precisamos tomar as montanhas", explicou.
Segundo uma fonte da segurança malinense, as principais autoridades dos grupos islamitas se refugiaram nas montanhas perto da fronteira argelina.
Centenas de pessoas fugiram de Kidal para cidades mais ao norte, em direção à fronteira argelina, segundo o Alto Comissariado para os Refugiados da ONU, que afirma que o acesso aos alimentos e bens de primeira necessidade foram seriamente afetados pelo conflito.