Agência France-Presse
postado em 31/01/2013 18:16
Havana - As negociações de paz entre o governo da Colômbia e a guerrilha das Farc foram reiniciadas nesta quinta-feira (31/1) em Havana em meio a novos episódios de violência marcados pela morte de quatro soldados e cinco guerilheiros.Quatro soldados morreram nesta quinta-feira no departamento de Nariño, no sul da Colômbia, em confrontos com as Farc, enquanto um porta-voz do governo colombiano confirmou à AFP a morte de cinco guerrilheiros das Farc em confronto com as forças militares no noroeste da Colômbia.
Neste contexto de tensão, o líder da delegação de negociação do governo, o ex-vice-presidente colombiano Humberto de la Calle condenou o sequestro de dois policiais e alertou que o governo de Juan Manuel Santos continuará a guerra contra as Farc durante o diálogo em Cuba, reiterando que não aceitará um cessar-fogo.
"Estas ações das Farc não podem ser aceitas. Não apenas rejeitamos, como também queremos advertir que o propósito é obrigar o governo a aderir a um cessar-fogo bilateral", declarou De la Calle.
"Isso não vai acontecer. Só haverá trégua no dia em que assinarmos um acordo para concluir o processo" de paz. A ordem do presidente Santos é continuar "perseguindo as Farc em todo o território nacional", acrescentou o chefe negociador, em uma gravação entregue à imprensa.
Em contrapartida, o líder da delegação das Farc, Iván Márquez, declarou que "não temos, até o momento, nenhuma informação oficial sobre o caso (do sequestro dos policiais), se são ou não as Farc" que detêm os reféns.
Márquez, o número dois do grupo rebelde, destacou a disposição das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia em "permanecer na mesa de negociações até encontrar um caminho que nos conduza à paz", mas descartou discutir com o governo "assuntos relacionados aos confrontos".
Contudo, convidou o ministro da Defesa colombiano, Juan Carlos Pinzón, e o general Alejandro Navas, comandante das Forças Armadas, "a analisarem juntos" a possibilidade de um "cessar-fogo bilateral" para que o processo de paz "avance sem sobressaltos".
Desde 19 de novembro, as Farc, a principal guerrilha do país, negociam com o governo do presidente Juan Manuel Santos em Havana, com o objetivo de acabar com o conflito que já dura quase meio século.
As negociações foram retomadas hoje após um recesso de seis dias marcados por novas tensões com o sequestro dos policiais e novos confrontos entre os militares e a guerrilha.
A estes eventos, soma-se o possível sequestro de três engenheiros envolvidos em uma disputa agrária no departamento (estado) de Cauca, que está sendo investigado pelas autoridades colombianas.
Em fevereiro de 2012, as Farc anunciaram o fim do sequestro extorsivo de civis e libertaram os últimos 10 policiais e militares em seu poder, mas defendeu o direito à detenção de "prisioneiros de guerra".
No comunicado lido à imprensa, Márquez afirmou nesta quinta-feira que "não convém ao país que o governo comece a buscar, como ficou evidente ontem em Bogotá, um ;florero de Llorente; (um pretexto para esquentar os ânimos) para acabar com as negociações, quando o que se deseja são passos concretos (...) passos definitivos do governo" para "acabar com a guerra que sangra" a Colômbia.
"As Farc não vieram para perder tempo em Havana nem fazer com que outros percam tempo", mas "buscam a paz com justiça social", assegurou.
A agenda de discussões em Cuba inclui a questão agrária e o desenvolvimento rural, as drogas ilícitas, o abandono das armas, a participação política e a reparação às vítimas. Esta é a quarta tentativa de paz entre a guerrilha e os diferentes governos colombianos desde os anos 1980.