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Oposição apoia apelo por queda da 'tirania' islamita no Egito

Frente de Salvação Nacional ratificou pedidos do povo egípcio

Agência France-Presse
postado em 02/02/2013 18:41
A Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coalizão opositora egípcia, apoiou neste sábado os "apelos do povo" pelo fim "da tirania" no Egito, onde o governo do presidente islamita Mohamed Mursi chamou de "ato isolado" as imagens de vários policiais agredindo brutalmente um homem.

Em um comunicado, a FSN afirma que "adere totalmente aos apelos do povo egípcio e de suas forças vivas em favor da queda do regime da tirania e (pelo fim da) hegemonia da Irmandade Muçulmana", formação islamita da qual Mursi é proveniente.

A Frente, da qual faz parte, entre outros, o prêmio Nobel Mohamed ElBaradei, pediu que "sejam julgados de forma justa os responsáveis por assassinatos e torturas, assim como pelas detenções ilegais, a começar pelo presidente".

O FSN descartou um diálogo com Mursi enquanto "banho de sangue" não tiver fim e pediu que suas exigências sejam levadas em consideração.

A Frente denuncia há meses o controle de Mursi e da Irmandade Muçulmana sobre as instâncias do país e pede a formação de um "governo de salvação nacional".

O comunicado foi divulgado após uma reunião do grupo realizada um dia depois de violentos confrontos em frente ao palácio presidencial, no Cairo.

[SAIBAMAIS]A oposição se reuniu neste sábado para examinar sua estratégia após os distúrbios ocorridos durante manifestações convocadas pela frente opositora.

Os conflitos entre forças de segurança e manifestantes na noite de sexta deixaram um morto e dezenas de feridos.

Um egípcio de 23 anos morreu atingido por um tiro nesses enfrentamentos em torno do palácio presidencial, e 91 pessoas ficaram feridas no Cairo e em diversas cidades do país.

Dezenas de opositores a Mursi estão há meses em barracas armadas na Praça Tahrir, eixo da revolta popular que causou a queda do ex-presidente Hosni Mubarak em 2011

A presidência egípcia se declarou neste sábado "entristecida com as imagens chocantes de alguns policiais tratando um manifestante sem respeito à dignidade humana e pelos direitos humanos".

O vídeo divulgado pela televisão e na internet mostra policiais agredindo um homem com cassetetes, e o arrastando depois de terem arrancado sua roupa.

No entanto, o governo considerou a agressão um "ato isolado".

O ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, ordenou uma investigação para que os policiais agressores "prestem contas", indicou o ministério. O funcionário disse, ainda, que estava "disposto a se demitir se isto for conveniente para o povo".

O homem agredido, Hamadah Saber Mohamed Ali, um operário de 50 anos, foi detido "em posse de 18 coquetéis Mololov e de duas latas de combustível", indicou a procuradoria, citando os primeiros elementos da investigação.

A vítima contou à televisão que sofreu maus-tratos e teve as roupas tiradas pelos manifestantes e que resistiu aos policiais até perceber que "estavam tentando salvá-lo".

Dois amigos seus afirmaram pouco depois à televisão que o homem estava mentindo porque foi submetido a "muitas pressões" e tinha medo.

No entorno do palácio presidencial, cujo muro de proteção está cheio de pichações contra o presidente, a calma reinou no sábado, mas à noite houve uma nova manifestação.

Centenas de manifestantes atiraram pedras, coquetéis molotov e fogos de artifício aos gritos de "Vá embora", o mesmo lema usado contra Mubarak. As forças de segurança se encontravam no interior do recinto e dispararam para o alto, segundo um jornalista da AFP.

Em uma semana, os confrontos deixaram cerca de 60 mortos em um país profundamente dividido entre os partidários e os opositores ao primeiro presidente civil e islamita do Egito.

A presidência assegurou em um comunicado que, apesar da escalada da violência, "o Egito se aproxima da concretização de sua evolução democrática", com eleições legislativas previstas para os próximos meses.


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