Agência France-Presse
postado em 03/02/2013 17:37
A calma reinava neste domingo no Cairo após novos confrontos noturnos, sinal da tensão persistente no Egito, onde o fosso aumenta entre o poder e a oposição.O trânsito era normal em torno do palácio presidencial de Heliópolis, onde centenas de manifestantes foram dispersados à noite com bombas de gás lacrimogêneo pelas forças de segurança quando manifestantes tentavam forçar uma das entradas do prédio, segundo testemunhas.
A Guarda Republicana, mobilizada no interior do palácio, evitou "responder às provocações de alguns manifestantes", declarou seu comandante, general Mohamed Ahmed Zaki, enquanto as cenas de violência de sexta-feira acentuaram as divisões em meio à classe política.
[SAIBAMAIS]Durante o dia, um membro dos serviços de saúde anunciou a morte de um manifestante ferido na sexta-feira perto do palácio presidencial, elevando o registro dos confrontos para duas mortes.
O Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, da qual o presidente Mohamed Mursi é proveniente, fez fortes críticas neste domingo à principal coalizão opositora, a Frente de Salvação Nacional (FSN), acusando-a de "sabotagem".
"Revolta popular contra a violência e contra a Frente da sabotagem", era o título do jornal Al-Hourriya Wal Adala, ligado ao PLJ, que culpa a coalizão opositora pelos conflitos entre policiais e manifestantes do palácio presidencial que deixou na sexta um morto e dezenas de feridos.
"Como testemunha da violência e das milícias armadas da FSN, o povo conhece mais o agressor, aquele que procura chegar à presidência pela força após o seu fracasso nas urnas", escreveu um analista do jornal.
"Sem conflito com a presidência"
O compromisso assumido na quinta por todas as correntes políticas --sob os auspícios da Al-Azhar, a prestigiosa instituição do Islã sunita - de evitar a violência e favorecer o diálogo pelo fim da crise foi desfeito.
Em um comunicado emitido no sábado, o FSN descartou "negociar a questão do diálogo (...) até que o derramamento de sangue tenha fim, até que os responsáveis (pela violência) prestem contas e que suas reivindicações sejam atendidas".
A FSN denuncia há meses a repressão do governo islamita de Mohamed Mursi, primeiro presidente civil do Egito, eleito em junho de 2012. Ela defende uma saída da crise passando pela formação de um "governo de salvação nacional" e por uma revisão da Constituição adotada em dezembro.
Neste domingo, a Alta Corte Constitucional adiou novamente, para 3 de março, sua decisão sobre a legalidade da comissão constituinte.
A FSN afirmou em seu comunicado de sábado que "adere totalmente aos apelos do povo egípcio e de suas forças vivas por uma queda do regime da tirania e da hegemonia da Irmandade Muçulmana".
Mas Amr Mussa, um dos líderes da FSN, relativizou o teor do comunicado: "Não estamos em conflito com a presidência", garantiu a uma rádio local.
A FSN também exigiu uma investigação "independente dos crimes" praticados pelas forças de ordem "com o objetivo de levar à justiça todos aqueles que são responsáveis por eles, a começar pelo presidente da República e seu ministro do Interior", Mohamed Ibrahim.
Cerca de 60 pessoas morreram desde o início da nova onda de violência no Egito, em 24 de janeiro, na véspera do 2; aniversário da revolta que derrubou o presidente Hosni Mubarak.