Mas seus admiradores querem conservar apenas o lado positivo de seu trabalho. "Ele conquistou a independência, a paz e prosperidade para o país. Agora ele se foi, eu tenho medo de que a paz nos deixe no futuro", explicou Sum Seun, de 60 anos. No início da tarde, os arredores do palácio foram evacuados e tudo foi limpo para a chegada das limusines dos oficiais convidados a participar da cremação. Além da família real e o primeiro-ministro Hun Sen, participaram chefes de Governo asiáticos, como o príncipe Akishino do Japão e o primeiro-ministro francês Jean-Marc Ayrault.
A presença da ex-potência colonial é "o símbolo da forte vontade política de manter ligações estreitas e de confiança" com o Camboja, comentou o Ayrault no domingo em sua chegada a Phnom Penh. Sihanouk foi "alguém que falava a nossa língua muito bem", acrescentou, elogiando a "relação forte e amorosa" entre a França e ele. Sexta-feira, o caixão foi levado em passeata por toda a cidade de Phnom Penh, diante de uma multidão menos densa do que a esperada, provavelmente um sinal da distância que, apesar de tudo, surgiu entre o ex-monarca e o Camboja moderno.
As autoridades afirmaram que um milhão de pessoas foram às ruas. Mas a realidade era claramente muito abaixo, mostrando que o país virou a página após um século turbulento. "O mito é passado", observa o historiador Hugh Tertrais. Desde sua abdicação em 2004, "Sihanouk não esteve tão presente, nem foi tão espetacular". "Estou muito ocupado para ir ao funeral", confirmou Sna, um homem de 25 anos. "É importante, mas eu não tenho tempo".
O rei Norodom Sihamoni, filho de Sihanouk favorecido pela abdicação do pai, e sua viúva, a rainha Monique, devem simbolicamente acender uma pira no final do dia, mesmo se técnicas mais "modernas" devem ser usadas para a cremação, explicou Thomico. Uma parte das cinzas serão espalhadas na confluência do Mekong, do Tonle Sap e do Bassac Tonle. O resto ficará em uma urna guardada no palácio.