Agência France-Presse
postado em 06/02/2013 15:15
Tunes - Policiais e dezenas de manifestantes se enfrentaram nesta quarta-feira (6/2) em Túnis, em frente ao ministério do Interior, ao mesmo tempo em que um cortejo transportava o cadáver do líder opositor Chokri Belaid, assassinado horas antes na capital do país.Os manifestantes lançavam pedras contra os policiais, que respondiam lançando bombas de gás lacrimogêneo. Dezenas de pessoas protegiam a ambulância que transportava os restos mortais do opositor, apesar da nuvem de gás.
"O povo quer a queda do regime", gritavam os manifestantes que rodeavam o veículo com o corpo de Choki Belaid, férreo opositor aos islamitas no poder na Tunísia.
A família de Belaid e pessoas próximas acusam os islamitas no poder de serem responsáveis pelo assassinato a tiros, crime que gerou repercussões entre vários setores do governo tunisiano.
O presidente do país, Moncel Marzouki, cancelou sua participação na cúpula da Organização da Cooperação Islâmica (OCI), no Cairo, para retornar urgentemente à capital do país, deixando Estrasburgo (leste da França), onde participava de uma sessão do Parlamento Europeu.
"Este assassinato odioso de um líder político que eu conhecia bem e que era meu amigo... é uma ameaça, é uma carta enviada que não será recebida", disse Marzouki perante o Parlamento Europeu. "Rejeitamos esta mensagem e vamos continuar a desmascarar os inimigos da revolução", afirmou. Vários manifestantes saquearam as sedes do Enahda em Mezzouna, perto de Sidi Bouzid, e em Gafsa (centro).
Também foram incendiados os gabinetes do Ennahda em Mezzouna e saqueados os do partido em Gafsa. Além disso, em Sidi Bouzid, Kasserine, Beja e Bizerte ocorriam outras manifestações para denunciar o assassinado de Belaid e contra o partido islamita governante.
[SAIBAMAIS]O irmão da vítima acusou imediatamente o partido islamita Ennahda de ser responsável pelo assassinato. "Acuso (o chefe do Ennahda) Rached Ghannouchi de ter ordenado assassinar meu irmão", declarou Abdelmajid Belaid. A esposa do opositor declarou a uma rádio local que seu marido foi baleado duas vezes quando saía de casa.
Chokri Belaid, de 48 anos, líder da oposição de esquerda e muito crítico com o governo atual, se uniu a uma coalizão de partidos, a Frente Popular, que se apresenta como uma alternativa ao poder. O primeiro-ministro islamita, Hamadi Jebali, denunciou imediatamente o assassinato, que classificou de "ato de terrorismo".
"É um ato criminoso, um ato de terrorismo não apenas contra Belaid, mas contra todo o país", afirmou à rádio Mosaique FM, e prometeu fazer todo o possível para que o assassino seja encontrado rapidamente. Segundo Jebali, Belaid foi liquidado por três balas disparadas à queima-roupa por um indivíduo que vestia uma espécie de casaco com capuz.
O líder do Ennahda também denunciou o crime. "Eles querem um banho de sangue, mas eles não vão sair vitoriosos" em criar um, afirmou Ghannouchi. "Podemos apenas condenar este ato covarde, que tem por objetivo minar a revolução e a estabilidade da Tunísia", completou.
Já Hamma Hammami, chefe da Frente Popular e próximo a Belaid, denunciou um "crime político". "Foi cometido por partidos políticos que querem afundar o país no assassinato e na anarquia. Todo o governo, todo o poder assume a responsabilidade deste odioso crime, já que as ameaças contra Chokri e outros não datam de hoje", disse à AFP.
A violência social e política se multiplicou no país nos últimos meses. Vários partidos da oposição e sindicalistas acusaram milícias pró-islâmicas de ataques contra os opositores ou seus escritórios.
Por outro lado, a Tunísia está presa em um beco sem saída político devido à falta de compromisso sobre a futura Constituição, que bloqueia a organização de novas eleições.
Em suma, a coalizão no poder dirigida pelo Ennahda atravessa uma grave crise, já que seus dois aliados de centro-esquerda, Ettalatol e o Congresso para a República, exigem uma ampla remodelação ministerial para retirar dos islamitas as principais pastas.