Agência France-Presse
postado em 08/02/2013 10:52
Tunes - A Tunísia celebrava nesta sexta-feira (8/2) com uma greve geral o funeral do opositor Chokri Belaid, cujo assassinato provocou um terremoto político no país e confrontos violentos. Mais de 3.000 pessoas se reuniram para assistir em um bairro do sul da capital tunisiana ao enterro deste político anti-islamita muito midiático, assassinado a tiros na quarta-feira (6/2).Para marcar o funeral, que caiu como uma bomba na política local, a central sindical histórica, a União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT), e os partidos políticos organizaram uma greve geral nesta sexta-feira. O movimento registrava forte adesão. Os voos que saíam e chegavam na Tunísia foram cancelados; os transportes funcionavam de forma precária, os supermercados, lojas e cafés estavam fechados em diversas cidades e as ruas quase vazias. A UGTT, que conta com 500.000 afiliados, pediu calma e recolhimento aos tunisianos. "É uma greve pacífica contra a violência", disse a central.
No mesmo tom, o ministério do Interior convocou "todos os cidadãos, homens e mulheres, a respeitarem nestas circunstâncias excepcionais o direito de trabalhar e o direito de greve, e a evitar tudo o que possa atentar contra a segurança pública". A última convocação de greve geral remonta a 14 de janeiro de 2011, o dia da queda do regime de Zine El Abidine Ben Ali, que fugiu para a Arábia Saudita. O assassinato de Chokri Belaid, sem precedentes nos anais contemporâneos, provocou dois dias de violência entre a polícia e os manifestantes em todo o país. Um agente morreu nos confrontos.
[SAIBAMAIS]Para o enterro do opositor, a família pediu ao exército que proteja o cortejo. "Meu filho é um homem que viveu com coragem e de forma digna. Nunca teve medo, foi como um mártir por seu país", repete seu pai, Salah Belaid, aos visitantes que se inclinam perante o corpo coberto de flores na casa da família. Dezenas de pessoas, entre elas várias personalidades da oposição, foram à casa para dar seu último adeus e recitar versículos do Alcorão.
Desde quarta-feira, as redes de televisão transmitem canções e conversas apaixonadas com políticos e cidadãos, que demonstram sua tristeza, sua raiva e seu medo. "Adeus Chokri, mártir da liberdade", gritavam diante de sua casa, no local onde foi abatido com três tiros. Sua viúva Besma, paralisada pela dor, guardava silêncio depois de repetir nos últimos três dias que o assassinato de seu marido foi encomendado pelos islamitas no poder do partido Ennahda.
O assassinato também agravou a crise política no país. O primeiro-ministro islamita, Hamadi Jebali, pediu na quarta-feira a criação de um governo de tecnocratas, o que seu próprio partido, o Ennahda, rejeitou. A presidência indicou na quinta-feira que não "recebeu a renúncia do primeiro-ministro, nem os detalhes de um gabinete limitado de tecnocratas", e Jebali não aparece em público há 36 horas. A violência política e social se multiplicou nos últimos meses, estimulada pelos que veem fracassadas as ilusões nascidas da revolução, e pela emergência de milícias pró-islamitas acusadas de atacar opositores.