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Papa Bento XVI anuncia que renunciará em 28 de fevereiro

O Papa afirma não ter forças para dirigir a Igreja por causa de sua idade

O papa Bento XVI anunciou nesta segunda-feira que renunciará ao papado em 28 de fevereiro por "falta de forças", em um discurso pronunciado em latim no Vaticano diante de vários cardeais e que surpreendeu o mundo. O anúncio abre um período inédito de transição na Igreja até a Páscoa, no fim de março, quando será eleito um novo pontífice.

A notícia tem poucos precedentes na história recente da Igreja Católica. "Os convoquei a este Consistório não apenas para as três causas de canonização, mas também para comunicá-los uma decisão de grande importância para a vida da Igreja", anunciou o papa em latim. "Depois de ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino" admitiu.



Segundo o porta-voz do pontífice, o padre Federico Lombardi, um conclave acontecerá por volta da Semana Santa (24 de março a 1 de abril). "Para a Páscoa teremos um novo papa", disse, depois de explicar que Bento XVI não participará do Conclave para a eleição do novo pontífice. O conclave deve acontecer 15 a 20 dias depois da efetivação da renúncia.

Renúncia


Há seis séculos um papa não renunciava ao pontificado. No século XIII, em 1294, Celestino V abandonou de forma voluntária o cargo ao não se sentir preparado para a função. Antes de ser designado papa, Celestino V havia vivido como um ermitão e não se sentia preparado para assumir o comando da Igreja. Em 1415, Gregório XII decidiu renunciar em um contexto completamente diferente do atual, na época do grande cisma do Ocidente, quando a Igreja tinha três papas que disputavam o comando.

Bento XVI, de 85 anos, que nos últimos meses havia sido visto mais magro, sofre há vários anos de problemas cardíacos, razão pela qual não pode viajar para cidades particularmente altas e havia reduzido a agenda de trabalho e compromissos públicos. A renúncia inesperada do papa, que reinou oito anos e sucedeu o carismático João Paulo II, gerou reações em todo o mundo e inclusive dentro da Igreja. Tem sido "um trono em um céu sereno", afirmou o cardeal veterano Angelo Sodano, por anos o número dois da Santa Sé.

A decisão histórica do papa abriu também as apostas sobre seu sucessor e vários nomes começaram a aparecer com força, como por exemplo, o cardeal de Gana Peter Turkson, o cardeal italiano Angelo Scola ou o canadense Marc Ouellet, além de vários representantes da igreja latino-americana.

Bento XVI, que em um livro entrevistas publicado em 2010 havia reconhecido que renunciaria em caso de incapacidade física ou mental, deve seguir em um primeiro momento para a residência de verão de Castel Gandolfo, nas proximidades de Roma, para depois se mudar a um mosteiro dentro dos muros da Cidade do Vaticano.

A chanceler de sua Alemanha natal, Angela Merkel, expressou seu "grande respeito" pela decisão do papa de renunciar em função de sua idade avançada. "Se o próprio papa, depois de muita reflexão, chegou à conclusão de que suas forças não são suficientes para exercer sua função, isso é motivo de meu maior respeito", afirmou.

[SAIBAMAIS]O novo arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder espiritual dos anglicanos, declarou estar com o "coração pesado" pelo anúncio da renuncia, mas que compreendia "totalmente" esta decisão. Já o Grande Rabino asquenaze de Israel, Yona Metzger, afirmou que Bento XVI melhorou as relações entre o cristianismo e o judaísmo e contribuiu para "uma diminuição dos atos antissemitas no mundo".

O porta-voz do Vaticano reconheceu que a renúncia pegou todos de surpresa. A decisão "foi meditada e tomada com total liberdade", afirmou Lombardi. Segundo o porta-voz, "ninguém sugeriu, nem obrigou a fazê-lo". "O papa sentiu suas forças diminuindo nos últimos meses e teve a lucidez de reconhecer", completou.

História

Joseph Ratzinger, prestigioso teólogo alemão que adotou o nome de Bento XVI depois de assumir o papado em 2005 em substituição do carismático João Paulo II, havia presidido por quase 25 anos, a partir de 1981, a célebre Congregação para a Doutrina da Fé, antigamente chamada de Santo Ofício da Inquisição.

No trono de São Pedro, tem sido um férreo defensor da ortodoxia católica e um tradicionalista que tentou reconciliar o mundo da fé e da razão em uma Igreja confrontada com vários escândalos, como o da pedofilia. Recusou em particular qualquer modificação das posturas tradicionais da Igreja em termos de aborto, eutanásia, divórcio ou homossexualismo, mas admitiu o uso do preservativo, em casos específicos, para evitar a propagação da Aids.