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Lideranças muçulmanas egípcias esperam diálogo com novo Papa

Em 2006, Bento XVI provocou mal-estar ao citar um imperador bizantino que descrevia o profeta Maomé como alguém que propagava ideias más e desumanas por meio da violência

Agência France-Presse
postado em 14/02/2013 18:01
Egito - Líderes muçulmanos do Egito acreditam que a poderá reabrir o caminho do diálogo com a Igreja Católica, interrompido após declarações polêmicas do Papa feitas em 2006.



No entanto, para que haja uma melhora na relação entre a Igreja e Al-Azhar, a mais alta autoridade do Islã sunita no Cairo, dependerá da postura do futuro Papa sobre o mundo muçulmano, afirmam.

"A retomada das relações com o Vaticano depende da nova atmosfera criada pelo futuro Papa", declarou Mahmoud Azab, conselheiro do imã de Al-Azhar, Ahmed al-Tayeb, para as questões inter-religiosas. "A iniciativa está agora nas mãos do Vaticano", ressaltou.

Em 2006, Bento XVI provocou mal-estar ao citar um imperador bizantino que descrevia o profeta Maomé como alguém que propagava ideias "más e desumanas" por meio da violência.

O diálogo chegou a ser retomado em 2009, antes de ser interrompido novamente após o Papa fazer um apelo pela proteção das minorias cristãs, depois de um ataque suicida contra uma igreja em Alexandria, no Egito, na noite de 31 de dezembro de 2010.

Na ocasião, Al-Azhar decidiu suspender suas reuniões com o Vaticano, por considerar as declarações de Bento XVI sobre os cristãos do Oriente como "repetidos ataques contra o Islã".

O influente teólogo qatari de origem egípcia Yusef al-Qaradawi indicou que a União Internacional de Sábios Muçulmanos boicota o Papa desde suas afirmações de 2006. "Agora, se Deus quiser, retomaremos o diálogo após a eleição de um novo Papa", declarou, se mostrando "otimista".

O diálogo poderá se concretizar em um momento em que os islâmicos se tornaram a principal força política em vários países da região após as revoluções árabes de 2011, o que complica ainda mais as relações com as minorias cristãs.

Grupos pragmáticos, como a Irmandade Muçulmana no poder no Egito, provavelmente acolhem o diálogo de maneira favorável "devido ao seu desejo de manter uma boa aparência", segundo Ashraf al-Sherif, professor de Ciência Política da Universidade Americana do Cairo.

Já os movimentos salafistas, muçulmanos fundamentalistas, são tradicionalmente menos abertos ao diálogo interreligioso, mas, de acordo com Sherif, não devem criar problemas, já que "o diálogo é essencialmente uma formalidade". Al-Azhar e o Vaticano mantiveram discussões sobre a coexistência religiosa durante o papado de João Paulo II, antecessor de Bento XVI.

A retomada do diálogo deve ser baseada em uma relação entre instituições, e não em laços pessoais, considerou Waguih Hasan, professor de Ciência Política da Universidade Al-Azhar. "O perigo está no fato de reduzir a relação a uma relação pessoal. Este deve ser um relacionamento institucional", ressalta.

Segundo ele, o futuro Papa deverá resolver os problemas entre o Vaticano e os muçulmanos e promover o "respeito mútuo". Após suas declarações de 2006, que provocaram protestos em países muçulmanos, Bento XVI tentou reparar as relações ao visitar a Mesquita do Sultão Ahmet, em Istambul, naquela que foi a segunda visita de um pontífice a uma mesquita na história papal.

"O futuro Papa não deve atacar o Islã", declarou um alto funcionário da Al-Azhar, Mahmoud Ashur, para quem as relações com o Vaticano devem basear-se no princípio de que as religiões "se completam, ao invés de competir".

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