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"Maré cidadã" inunda Madri contra a austeridade e a corrupção

Manifestantes ocupam o centro de Madri para protestar contra austeridade corrupção

Agência France-Presse
postado em 23/02/2013 16:14
Madri - Protestando contra a austeridade e a corrupção, uma "maré cidadã" de dezenas de milhares de pessoas inundou neste sábado (23/2) o centro de Madri em um momento de exasperação de um país em recessão e com alto desemprego, indignado contra a corrupção em suas instituições.

Com assobios estridentes e o retumbar dos tambores, professores vestidos de verde, médicos e enfermeiras de branco, feministas de roxo, associações ecologistas, grupos do movimento dos ;indignados; e mineiros do norte da Espanha de preto se reuniram na praça Netuno, perto do Congresso dos Deputados, onde pediram a demissão do governo conservador do primeiro-ministro Mariano Rajoy.

"Estamos até o pescoço", afirmou Luis Miguel Herranz, médico de 38 anos funcionário de um hospital, ao denunciar "a política de cortes, a corrupção e a queda de qualidade do sistema de saúde".

"Estamos aqui todos unidos os médicos, os bombeiros, os mineiros e tanto faz para eles", emendou.

"Não ao golpe de Estado financeiro", por "uma democracia real", "Basta de cortes" e "Chega de austeridade" foram as principais palavras de ordem desta "maré cidadã" que inundou a capital espanhola neste 23 de fevereiro, data em que se comemora os 32 anos da tentativa de golpe militar que fez cambalear a frágil democracia espanhola, em 1981.

Assim como em Madri, os protestos se repetiram em dezenas de cidades em espanholas.

"Estamos muito aborrecidos", indignava-se Cristina Martín, enfermeira de 35 anos. "Reivindicamos a necessidade de que protejam um pouco mais os cidadãos e não os bancos", disse a jovem, vestindo uma camiseta branca, segundo ela, de "saúde em luta".

"O governo não tem capacidade de gestão, nem liderança, nem mesmo credibilidade ou autoridade moral dentro do país", afirmou Pau Nadal, engenheiro de 35 anos, que foi ao protesto acompanhado da mulher e de seu filho de quatro meses.

Em meio à variada multidão, destacavam-se os trabalhadores da companhia aérea espanhola Iberia, que pretende demitir 3.800 funcionários, com jalecos amarelos fluorescentes, a "maré negra" dos mineiros com capacete e lanterna na cabeça, denunciando atrás de um grande cartaz que "a violência é fechar as bacias mineradoras e não oferecer nenhuma alternativa".

O centro da revolta era a política de austeridade desfraldada no último ano pelo governo conservador de Mariano Rajoy, com a finalidade de economizar 150 milhões de euros em três anos, até 2014, e sanear o déficit público.

Mas esta política de rigor draconiana se percebe majoritariamente como um freio ao crescimento econômico em um momento em que a Espanha patina na recessão e registra desemprego superior a 26%.

Com uma situação social no limite, a raiva aumentou com a ajuda europeia de mais de 41 bilhões de euros aos bancos, considerados por muitos espanhóis os responsáveis pela crise.

Além disso, a sombra da dúvida se instalou permanentemente nas principais instituições do Estado, salpicadas por numerosos casos de corrupção.

A monarquia, até pouco tempo desfrutando de uma imagem imaculada, foi sacudida por uma tempestade sem precedentes: o genro do rei Juan Carlos, Iñaki Urdangarin foi interrogado este sábado por um juiz de instrução das ilhas Baleares em uma investigação por má gestão de recursos públicos da ordem de milhões de euros.

Em consequência, bandeiras republicadas se multiplicaram nos protestos e, na sexta-feira, a Casa Real teve que desmentir boatos de uma possível abdicação do rei, de 75 anos.

Em janeiro foi Mariano Rajoy quem apareceu em uma lista publicada pelo jornal El País como cobrador de supostos pagamentos clandestinos.

"Viemos por causa de tudo. Por causa do desemprego, dos políticos corruptos, da juventude que não tem futuro", resumiu Luis Mora, trabalhador do setor da construção civil de 55 anos.

Acompanhado dos três filhos e filhas, todos trabalhadores do setor da saúde pública, ele exibia uma bata branca onde pendurou vários envelopes, transformados em símbolos dos protestos anticorrupção, com as inscrições "10.000 euros" e "20.000 euros".

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