Agência France-Presse
postado em 25/02/2013 13:28
Karachi - Depois de serem reconhecidos como o terceiro gênero sexual, os transexuais paquistaneses estarão representados nas eleições previstas para esta primavera (hemisfério norte) por seu candidato Sanam Fakir, para quem os "eunucos" não devem se limitar a dançar, mendigar ou se prostituir.O Paquistão, um país onde os golpes de Estado são comuns desde a sua criação, em 1947, organizará em meados de maio as primeiras eleições nacionais de sua história depois de um governo eleito conseguir completar um mandato inteiro. Estas eleições históricas para a consolidação da democracia neste país muçulmano conservador de mais de 180 milhões de habitantes terão uma novidade: a participação de um membro da comunidade de "eunucos" ou "hijras" em urdu, hermafroditas, transexuais e travestis.
Em 2009, a Suprema Corte paquistanesa ordenou que o governo reconhecesse os eunucos como um sexo a parte, o primeiro passo no sentido de reconhecer os direitos dessa minoria, cujos membros (cerca de meio milhão) são pagos para dançar em casamentos, obrigados a mendigar e até mesmo a se prostituir.
[SAIBAMAIS]Dois anos depois, a Justiça deu-lhes o direito de participar nas eleições. "Nosso objetivo não é apenas dançar para os outros ou pedir esmolas. Nós também temos uma vida para viver", disse Sanam Fakir, de 32 anos, em Sukkur, uma pequena cidade na província de Sindh, 800 km ao sul de Islamabad.
Sanam Fakir será um candidato independente para uma cadeira no parlamento da província de Sind. No entanto, tem poucas chances de vencer neste reduto do Partido Popular do Paquistão (PPP, no poder), onde grandes famílias de proprietários de terras dão as instruções de voto aos seus empregados.
"Eu sei que será difícil, mas cada um deve contribuir para melhorar a sociedade. Não somos corrompidos, não temos famílias e nossos direitos são limitados", acrescentou Fakir, em referência à corrupção em seu país e a uma vida política feudal. Este eunuco dirige uma organização que contribui para a educação de outros transexuais. "Nós temos instrução agora. Antes as pessoas riam de nós, mas começaram a nos respeitar", afirma.