A Justiça francesa deve analisar nesta terça-feira (26/2) o pedido de suspensão da publicação do livro Belle et bête (A bela e a fera, em livre tradução), que teria sido baseado no relacionamento do ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn com a autora da obra, Marcela Iacub. Apesar de o ex-ministro francês não ser mencionado explicitamente no livro, Iacub confirmou em entrevista à revista Le Nouvel Observateur que a história faz referência a Strauss-Kahn e que mistura realidade e ficção. Caso o ex-chefe do FMI saia vitorioso na disputa, será a primeira vez que a Justiça proíbe a circulação de uma publicação desde 1996, quando foi impedido o lançamento de um livro sobre o estado de saúde do ex-presidente François Mitterrand.
Strauss-Kahn acusa a autora de "violar a intimidade da vida privada" e pede que a publicação ; que chegaria às livrarias na quarta-feira (27) ; seja recolhida. Os advogados do membro do Partido Socialista Francês também querem que seu cliente seja indenizado em 100 mil euros (cerca de R$ 260 mil) por Iacub, a editora Stock, e a revista Le Nouvel Observateur, que publicou trechos da obra em que Strauss-Kahn é comparado a um porco. Na França, uma decisão judicial de suspensão de um livro é rara, mas especialistas acreditam que o economista tem chances de vencer a disputa. "Se não houver caso de proibição aqui, nunca haverá", disse o advogado Basile Ader ao Le Journal du Dimanche.
A jornalista Anne Sinclair, ex-esposa de Strauss-Kahn, enviou uma carta para a Le Nouvel Observateur, cujo texto foi revelado pelo jornal Le Figaro. Nela, Sinclair acusa Marcela Iacub de ser uma "mulher perversa e desonesta, motivada pelo fascínio do sensacional e pela ganância". Iacub afirma ter se relacionado com Strauss-Kahn de janeiro a agosto de 2012, em meio ao episódio em que ele foi acusado de agredir sexualmente a camareira de um hotel em Nova York. Em Belle et bête descreve o personagem principal , que teria sido inspirado em Strauss-Kahn, como "meio homem, meio porco". "O que é criativo, artístico e bonito em Dominique Strauss-Kahn pertence ao porco e não ao homem. O homem é horrível, o porco é maravilhoso, mesmo sendo um porco", explicou ela à Le Nouvel Observateur. Iacub ainda adicionou que Strauss-Kahn teria transformado o Palácio do Eliseu em um "gigante clube de swingers" se tivesse sido eleito presidente francês, em 2012.
O ex-chefe do FMI renunciou ao cargo mais importante da instituição e às suas ambições políticas após a acusação de assédio a uma camareira em 2011. Atualmente, Strauss-Kahn, 63 anos, é investigado por seu possível envolvimento em uma rede de prostituição na França. Para Roberto Romano, cientista político e professor de ética da Universidade Estadual de Campinas, a sequência de escândalos arruinou a carreira de Strauss-Kahn. "É muito difícil uma pessoa que tenha passado por tantos escândalos possa manter a autoridade", declarou. "Talvez, ele possa continuar como assessor político, já que ele tinha sua competência e ninguém nega, mas não atuará mais na direção de um órgão", avaliou.