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John Kerry critica discurso antissionista de premiê turco

O secretário de Estado americano afirmou que lhe parece questionável o comentário do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, que comparou o sionismo com um "crime contra a humanidade"

Agência France-Presse
postado em 01/03/2013 14:09
Ancara - O secretário de Estado americano John Kerry afirmou nesta sexta-feira (1;/3), em Ancara, que lhe parece questionável o comentário do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, que comparou o sionismo com um "crime contra a humanidade". "Não apenas discordamos, como esse comentário nos parece questionável", afirmou Kerry em uma coletiva de imprensa com o chanceler turco, Ahmet Davutoglu. "Falei deste discurso com o ministro das Relações Exteriores e falarei sobre ele como primeiro-ministro", assegurou Kerry.

John Kerry chegou nesta sexta-feira (1;/3) a Turquia para tratar inicialmente do conflito na vizinha Síria, mas a visita acontece num momento em que repercutem as declarações do primeiro-ministro turco contra o sionismo. Um dia depois de Washington anunciar o envio de ajuda não letal à oposição síria, o conflito neste país deveria ser o principal tema das reuniões entre Kerry e seu colega turco, Ahmet Davutoglu, o chefe de Governo, Recep Tayyip Erdogan, e o presidente, Abdullah Gül.



Mas, em sua primeira viagem internacional, Kerry teve de lidar com outra questão difícil, a degradação das relações entre Turquia e Israel, ambos aliados dos Estados Unidos. Recep Tayyip Erdogan está sendo alvo de violentas críticas por ter comparado, durante um discurso na quarta-feira em Viena, o sionismo com um "crime contra a humanidade". "Como acontece com o sionismo, o antissemitismo e o fascismo, agora é inevitável considerar a islamofobia como um crime contra a humanidade", declarou Erdogan no 5; fórum organizado pela ONU para promover o diálogo entre as religiões e entre os povos, a Aliança das Civilizações.

Um porta-voz do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que estava presente no evento, rebateu nesta sexta-feira os comentários do chefe de Governo turco, que chamou de "ofensivos e falsos". "O secretário-geral ouviu o discurso do primeiro-ministro em uma versão traduzida. Se estes comentários sobre o sionismo foram traduzidos corretamente, então não apenas são falsos, como contradizem os princípios que fundaram a Aliança das Civilizações", afirmou o porta-voz.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também manifestou indignação. "O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu condena energicamente o comunicado sobre o sionismo e sua comparação com o fascismo do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan", afirma um comunicado do gabinete do premier.

A Casa Branca também criticou as declarações de Erdogan. "Rejeitamos a comparação do primeiro-ministro Erdogan entre sionismo e crime contra a humanidade, que é ofensiva e falsa", declarou um porta-voz do Conselho de Segurança, Tommy Vietor.

As declarações de Erdogan foram feitas em um contexto de afastamento diplomático entre Turquia e Israel desde o ataque de um comando israelense em 2010 contra um barco que tentava romper o bloqueio do Estado hebreu a Gaza e que terminou com a morte de nove militantes turcos.

O premiê turco já fez em várias ocasiões fortes comentários sobre as políticas de Israel, que nos últimos anos se converteu num de seus principais alvos.

Davutoglu, por sua vez, afirmou que seu país sempre foi contrário ao antissemitismo. "Nunca fizemos nenhuma declaração hostil contra um país ou nação", assegurou. "Mas, se quiser falar de atitude hostil, podemos classificar como tal o massacre sanguinário em alto-mar de nove de nossos concidadãos civis, que não cometeram qualquer infração", contra-atacou o ministro turco.

Davutoglu se referia ao comando israelense que matou nove turcos ao atacar, em águas internacionais, em maio de 2010, uma pequena frota carregada de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. Em compensação, Turquia e Estados Unidos estão do mesmo lado no que diz respeito à Síria.

Kerry elogiou a cooperação de Washington com Ancara, que há meses também reclama a partida do presidente Bashar al Assad. A Turquia acolhe, além disso, cerca de 200.000 refugiados sírios. "Ambos pensamos que a prioridade é uma solução política. Um regime que comete atrocidades contra o próprio povo não tem nenhuma legitimidade", afirmou Kerry, também elogiando o posicionamento de mísseis Patriot terra-ar por parte dos Estados Unidos, Alemanha e Holanda em solo turco, para proteger a Turquia de possíveis ataques procedentes da Síria.

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