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Formação de governo na Itália se converte em quebra-cabeças político

O líder do Partido Democrático, Pier Luigi Bersani, reiterou em uma entrevista ao jornal La Repubblica sua oposição a um pacto com Silvio Berlusconi

Agência France-Presse
postado em 01/03/2013 14:26
Roma - A formação de um novo executivo na Itália se apresentava nesta sexta-feira (1;/3) como um quebra-cabeças, no qual se embaralhavam diversas possibilidades de alianças.

O líder do Partido Democrático, Pier Luigi Bersani, reiterou nesta sexta-feira, em uma entrevista ao jornal La Repubblica, sua oposição a um pacto com Silvio Berluscoin para formar um governo estável.

"Chame-o de governo minoritário ou de governo de objetivos, eu o chamo de governo de mudança", disse na entrevista o líder de centro-esquerda, que se dispõe a apresentar na quarta-feira ao seu partido um programa de "sete ou oito pontos".

Este programa prevê uma reorientação da política europeia de austeridade em direção ao crescimento, um aumento das ajudas estatais, um corte dos custos da vida política (mediante uma redução à metade do número de parlamentares e uma queda dos salários dos cargos eleitos) e promover o desenvolvimento sustentável.

Em sua entrevista, Bersani relançou a oferta feita nesta semana ao ex-comediante Beppe Grillo para colaborar com este programa de reformas concretas que vão no sentido das exigências de campanha do chefe do Movimento Cinco Estrelas.

Após as eleições legislativas de domingo e segunda-feira, o Partido Democrático tem uma ampla maioria na Câmara Baixa do Parlamento, mas uma minoria relativa (muito longe da absoluta) no Senado.

A equação impede o PD de formar um governo por sua conta, fazendo com que precise unir forças com outros para formar um executivo estável.

Os outros dois partidos mais votados nas legislativas de domingo e segunda-feira foram a coalizão PDL-Liga Norte, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, e o Movimento Cinco Estrelas, do ex-comediante Beppe Grillo, oposto à doutrina da austeridade econômica.

Em virtude do sistema bicameral italiano, Bersani precisa, para constituir seu governo, da aprovação da Câmara de Deputados e do Senado.

Por isso, o chefe do Partido Democrático ampliou sua proposta de colaboração nesta sexta-feira a todas as formações presentes no Parlamento, incluindo o Povo da Liberdade de Berlusconi.

Em troca deste apoio no Parlamento, Bersani não descarta dar cargos ao M5S ou ao PDL, como, por exemplo, a presidência de alguma das duas câmaras.

Nesta semana, Grillo negou-se a apoiar Bersani, acusando-o de "perseguir politicamente" seus deputados.

"O PD acredita estar em uma feira de animais, o M5S não se vende", escreveu nesta sexta-feira.

Por sua vez, Berlusconi ofereceu seu apoio a Bersani, ao que os militantes de esquerda e as pessoas próximas ao secretário do PD se opõem com firmeza.

"Beppe Grillo será quem decidirá, tudo depende de se quer novas eleições ou não. Tem um papel central, ele é quem tem a faca e o queijo na mão", explica o professor de ciência política Roberto D;Alimonte.

Para tranquilizar a União Europeia, o presidente italiano, George Napolitano, garantiu durante uma visita à Alemanha que a península "assumirá suas responsabilidades e fará sua parte de sacrifícios", em um contexto de recessão (o PIB se contraiu 2,4% em 2012) e alto endividamento (127% do PIB).



Mas advertiu que não é possível acelerar a formação de um governo antes da segunda metade de março.

E os resultados das legislativas italianas criaram incômodo na UE, em geral, e na Alemanha, o principal promotor da austeridade como método para sair da atual crise econômica.

"A única coisa que está clara é que a Itália tem uma maioria contra (a chanceler alemã Angela) Merkel", escrevia o jornal italiano, que resume bem a situação incômoda que reina no governo alemão.

Por sua vez, a julgar por uma importante emissão de dívida nesta semana na qual a demanda foi robusta, os mercados financeiros demonstraram uma resistência surpreendente, convencidos de que em breve será formada uma coalizão de governo.

"O mercado aprendeu a viver com este sentimento de incerteza política na Eurozona", considera Renaud Murail, da Barclays Bourse.

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