A crise política tem se traduzido em violência. Neste sábado, manifestantes atacaram um prédio da polícia em Mansura, cidade do norte do Egito, onde foram registrados novos confrontos após a morte de um manifestante na noite passada, indicou a agência de notícias Mena.
[SAIBAMAIS]"Deve haver uma vontade de todas as partes de assumir compromissos significativos sobre questões que contam cada vez mais para o povo egípcio", declarou Kerry durante uma coletiva de imprensa com o seu homólogo egípcio Mohammed Kamel Amr.
Desde a eleição, em junho de 2012, de Mohamed Mursi, primeiro presidente islâmico e civil do Egito, o país mergulhou em seguidas crises e está divido entre partidários do presidente e uma oposição heterogênea, formada por liberais e a esquerda, liderada pela Frente de Salvação Nacional (FSN), que defendeu o boicote das eleições legislativas em abril.
Os críticos acusam Mursi de não conseguir cumprir seus compromissos para resolver os problemas sociais e econômicos e de trair a revolução de 2011, que derrubou o regime autocrático de Hosni Mubarak. Eles exigem um governo de "salvação nacional" antes das eleições legislativas.
Um líder da FSN, Hamdeen Sabahi, indicou na quinta-feira que não se encontraria com Kerry em razão das pressões de Washington para convencer a oposição de renunciar ao boicote das legislativas.
O secretário de Estado, no entanto, telefonou a ElBaradei e Amr Moussa, indicou o Departamento de Estado.
"Eu insisto, tanto quanto posso, em afirmar que estamos aqui não para ingerir, estamos aqui para escutar", assegurou Kerry à oposição.
Estados Unidos, os "partidários"
Em frente ao ministério das Relações Exteriores, dezenas de manifestantes queimaram fotos de Kerry, acusando os Estados Unidos de apoiarem Mursi.
Kerry ressaltou então que os Estados Unidos não são partidários de nenhuma das partes.
"Viemos aqui enquanto amigos do povo egípcio, não do governo, de uma pessoa, de um partido ou de uma ideologia", insistiu o secretário, que realiza sua primeira visita ao Egito desde que assumiu suas funções, em 1; de fevereiro.
Keery declarou ainda que deve encontrar no domingo o presidente Mursi para discutir a maneira como o seu país pode ajudar o Egito a sair da crise econômica, um tema para o qual também pediu consenso.
"Neste período de desafio econômico, é importante para o povo sírio encontrar um terreno de subida", disse.
"É primordial, essencial, urgente que a economia egípcia volte a ser forte, que se recomponha", declarou a empresários.
"É necessário chegar a um acordo com o FMI. É preciso inspirar confiança aos mercados", acrescentou.
O Egito negocia com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um empréstimo de 4,8 bilhões de dólares, considerado fundamental para restaurar a confiança na economia, que sofreu principalmente com a retirada de investimentos estrangeiros e o declínio do turismo.
Um acordo chegou a ser concluído em novembro de 2012, mas o empréstimo foi adiado devido à instabilidade política. Ele poderá ser retomado uma vez que o novo Parlamento assuma o poder, em julho.
O empréstimo necessita "de um acordo político de base entre todos os atores no Egito", assim como "um consenso econômico sobre as reformas" que devem acompanhar, indicou um membro do Departamento de Estado.
Depois de manifestações em massa e confrontos no final de 2012, os protestos em janeiro marcando o segundo aniversário da revolução transformaram-se em protestos anti-Mursi, degenerando novamente em confrontos que deixaram 60 mortos.
Além de Mansura, outros casos de violência foram registrados neste sábado em Port Said (nordeste), onde os manifestantes atearam fogo a uma delegacia de polícia. As duas cidades observam um movimento de desobediência civil para protestar contra a política de Mursi.