Agência France-Presse
postado em 04/03/2013 20:52
O Ministério Público de Milão denunciou, esta segunda-feira, a existência de "um esquema de prostituição" no círculo de Silvio Berlusconi, no âmbito de seu requisitório (exposição dos motivos para a acusação judicial) contra o ex-chefe de governo italiano, acusado de prostituição de menores e abuso de poder no caso ;Rubygate;."Não era prostituição de rua, mas um sistema muito mais sofisticado, que nem por isso era menos prejudicial à dignidade da mulher", declarou o procurador Antonio Sangermano.
Segundo a autoridade, os amigos de Silvio Berlusconi, réus em outro processo, montaram "um sistema de prostituição complexo" no qual Ruby, pivô do escândalo, era "parte integrante".
Espera-se que o requisitório seja concluído na sexta-feira.
Silvio Berlusconi reagiu com ironia ao desmentir, em comunicado publicado à noite, a versão do procurador.
"No que me diz respeito, eu tive a chance (e talvez o mérito) de não ser obrigado a remunerar uma senhora ou uma dama para ter relações íntimas", afirmou o Cavaliere, que se disse "um pouco estupefacto e um pouco entretido" com o requisitório.
"Hoje nós nos confrontamos com um processo midiático e não judicial (...), uma reconstrução dos eventos altamente parcial", criticou o advogado de Berlusconi, Niccolo Ghedini.
Neste processo, iniciado em abril de 2011, Berlusconi é acusado de ter remunerado em 2010 uma dezena de serviços sexuais de uma jovem marroquina, Karima El Mahroug, apelidada de "Ruby rouba corações", menor de idade na época, um delito passível de prisão na Itália.
O Cavaliere pode ser condenado a até três anos de prisão por prostituição de menores e a doze anos por abuso de poder, porque também é acusado de ter pressionado a chefia de polícia de Milão para liberar Ruby, interpelada por um roubo em maio de 2010.
Mais tarde, Annamaria Fiorillo, magistrada que estava de plantão no tribunal de menores na madrugada de 27 para 28 de maio, quando Ruby foi interpelada a testemunhar, derrubou a defesa de Silvio Berlusconi.
Ela afirma ter insistido para que a jovem fosse transferida para um abrigo e não entregue aos cuidados da conselheira regional da Lombardia, Nicole Minetti, uma pessoa próxima ao Cavaliere, hoje processada por incitação à prostituição.
"Eu sempre mantive firmemente minha posição, que era a de que a jovem fosse transferida para um abrigo comunitário porque eu suspeitava de prostituição", declarou Fiorillo.
A magistrada contou ter recebido quatro ligações telefônicas durante a noite procedentes da chefia de polícia.
O último telefonema procedeu da comissária Giorgia Iafrate, que lhe disse não haver mais lugar no centro de acolhida onde Ruby poderia ter sido hospedada e que "uma conselheira ministerial, uma certa Minetti, tinha se apresentado para se encarregar da menor", contou Fiorillo.
A comissária acrescentou que Nicole Minetti tinha se apresentado porque Ruby "era a sobrinha de Hosni Mubarak", na época presidente do Egito, uma versão confirmada por Silvio Berlusconi, que assegurou ter agido junto à polícia para evitar um problema diplomático com o Egito, afirmou a magistrada.
"Eu respondi a ele que, tendo dito que era marroquina, ela poderia, no máximo, ser filha do rei do Marrocos", acrescentou Fiorillo.