Agência France-Presse
postado em 05/03/2013 18:27
Cidade do Vaticano - Os cardeais reunidos na segunda-feira (4/3) para a terceira congregação ou assembleia prévia ao conclave enviaram um telegrama ao Papa Emérito Bento XVI e deverão estabelecer em poucos dias a data para a eleição do novo pontífice, enquanto o escândalo das Vatileaks ronda as reuniões."Os Padres Cardeais, reunidos no Vaticano para as congregações gerais em vista o próximo conclave, lhe enviamos todos juntos uma carinhosa saudação e agradecemos por seu luminoso ministério petrino e pelo exemplo que deu de uma generosa solicitação pastoral pelo bem da Igreja e do mundo", escreveram por meio do cardeal Angelo Sodano, decano do colégio cardinalício.
No total, 148 cardeais, entre eleitores e maiores de 80 anos, participaram da assembleia-chave para elaborar o perfil do sucessor de Bento XVI, que renunciou inesperadamente ao trono de Pedro.
Entre os 115 eleitores com direito a voto por ter menos de 80 anos, cinco não chegaram, segundo informou o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi. "Cada um tem seus próprios compromissos e estão se organizando para chegar", explicou Lombardi, acrescentando que "não me atrevo a fornecer uma data para o Conclave". "Não é necessário que todos os cardeais estejam presentes para fixar a data do conclave, mas é preciso fornecer o tempo para chegarem e poderem participar", afirmou, razão pela qual não se descarta que seja convocado para domingo ou segunda-feira.
Lombardi não quis abordar o assunto mais quente, o conteúdo das intervenções dos cardeais, que se negaram nesta terça-feira a dar declarações à imprensa. Diferentemente do primeiro dia, os cardeais estão relutantes em falar e evitam entrar pela porta lateral do Vaticano, onde um pelotão de câmeras de televisão, fotógrafos e repórteres os esperam.
[SAIBAMAIS]Nenhum dos chamados papabili entrou por esta porta na grande assembleia da hierarquia da Igreja católica, onde se busca o sucessor do primeiro Papa a ter renunciado na era moderna.
De acordo com a imprensa italiana, um grupo de cardeais, entre eles o brasileiro Raymundo Damasceno Assis, exige que sejam divulgadas as conclusões do relatório sobre o Vatileaks, o escândalo sobre o vazamento de documentos confidenciais de Bento XVI.
Dois importantes meios de comunicação da Itália, o jornal La Repubblica e a revista Panorama, afirmaram que o Papa decidiu renunciar ao cargo depois de ter recebido um relatório ultrassecreto de 300 páginas, realizado por três cardeais veteranos, no qual se revela uma trama de corrupção, sexo e tráfico de influências dentro da Cúria Romana.
Em uma nota oficial divulgada três dias antes de sua renúncia, o Vaticano adiantou que Bento XVI decidiu entregar exclusivamente ao seu sucessor o relatório ultrassecreto, mas não proibiu que seus autores falassem sobre o assunto. Por isso, vários cardeais consideram a informação indispensável para escolher o novo Papa.
Em uma entrevista ao jornal italiano La Stampa, Damasceno Assis reconheceu que não é necessário ter o documento completo, e sim "conhecer o núcleo central" diante de uma eleição tão importante. "Certamente seu conteúdo influenciará nas votações", declarou.
A maioria dos cardeais exige uma reforma da Cúria Romana e por isso vários observadores e especialistas indicam entre os favoritos aqueles que sabem combinar experiência pastoral com gestão dos problemas internos, para que agilize o governo central da Igreja e, sobretudo, opere com transparência.
Nesta lista figuram os nomes do brasileiro Odilo Scherer (São Paulo), do filipino Luis Antonio Tagle (Manila) e do sul-africano Wilfrid Napier (Durban), provenientes de igrejas jovens, mas que não conhecem a complexa maquinaria do Vaticano e suas controversas conexões com o poder.
Também figura o cardeal canadense Marc Ouellet, apreciado na América Latina por sua experiência na Colômbia, que há alguns anos trabalha na Cúria Romana. Para alguns, é necessário que se indique não apenas o Papa, mas também seu braço direito na Secretaria de Estado, figura-chave dentro da engrenagem da Santa Sé e que, em geral, esteve a cargo de um italiano. "A governabilidade é agora o tema número um", sustenta o vaticanista americano John Allen.
Para Giovanni Maria Vian, diretor do jornal da Santa Sé, l;Osservatore Romano, "a origem geográfica do próximo Papa não é importante", embora assegure que a padroeira da América, Nossa Senhora de Guadalupe, poderia desta vez ter um Papa. "Por que não?", comentou à AFP.
Por isso, tanto Lombardi quanto os especialistas insistem que os cardeais "tomarão o tempo necessário" para escolher o líder ideal da Igreja católica do século XXI.