Agência France-Presse
postado em 05/03/2013 20:25
Hugo Chávez governou e se fez onipresente na vida dos venezuelanos apoiado por uma poderosa rede midiática estatal, com a qual enfrentou os críticos dos meios de comunicação privados, aos quais fustigou e, em alguns casos, como o do canal RCTV, forçou o fechamento ao não renovar a licença.
Chávez, que poucos meses depois de assumir o poder em 1999 lançou o programa dominical "Alô, Presidente" - com duração média de 5 a 6 horas todos os domingos -, entrou nas casas dos venezuelanos, que se acostumaram a ouvi-lo dia e noite, inclusive várias vezes no mesmo dia, em qualquer data.
Como principal plataforma de exposição utilizou as cadeias de rádio e televisão - de transmissão obrigatória -, nas quais informava, liberava recursos ou inaugurava obras, em aparições sempre impregnadas por um estilo próprio, com direito a piadas, contos e músicas.
Também atacava a oposição e os meios de comunicação privados, que chamava de "apátridas", "burgueses" ou "imperialistas". Acusava todos de conspiração contra seu governo.
"Desde a campanha (em 1998), Chávez apresentou coisas muito polarizadas, com uma linguagem bélica, que depois transferiu para o discurso contra a imprensa. Isto levou a imprensa a assumir um papel de oposição quase política, também ante partidos que pareciam diminuídos", disse à AFP Carlos Correa, diretor da ONG Espaço Público, que promove a liberdade de expressão.
Mas a "guerra midiática", como afirmava Chávez, começou realmente durante o golpe de abril de 2002 - que o afastou do poder por 48 horas -, quando os canais privados optaram por exibir desenhos animados e não informar sobre as manifestações nas ruas que pediam o retorno do presidente.
"O papel que desempenharam no golpe de Estado emissoras como a RCTV e a Venevisión está no consciente e inconsciente de todo venezuelano", afirmou à AFP o cientista político Nicmer Evans, que justifica as medidas que adotadas depois pelo presidente contra alguns meios de comunicação privados.
"A bandeira da liberdade de expressão não pode ser uma bandeira para fazer o que te dá vontade. Em qualquer país do mundo o Estado está aí para intervir e regular", defendeu Evans.
Chávez decidiu em 2007 não renovar a concessão da RCTV, a mais antiga emissora de televisão do país, que tinha grande audiência, o que provocou uma onda de protestos liderados por estudantes e muitas críticas internacionais.
Desde então, apenas um canal de oposição continuou com transmissão em sinal aberto, a Globovisión, mas com um alcance limitado a Caracas e à cidade de Valencia, enquanto a frequência da RCTV - a de maior alcance - passou a ser usada pela estatal TVES.
A Globovisión, apesar de não ter sofrido o mesmo destino da RCTV e de outras 30 emissoras de rádio, recebeu multas milionárias, dezenas de processos administrativos e acusações contra os sócios do sócios do canal, chamado por Chávez de "terrorista midiático".
Muitas sanções contra a imprensa foram possíveis graças à Lei de Responsabilidade Social no Rádio e Televisão, promulgada pelo governo em 2004.
Oficialmente, a lei foi criada para estimular a produção audiovisual e regulamentar conteúdos sexuais e violentos, mas a oposição a batizou de "lei da mordaça" ao denunciar que permitia a aplicação de sanções arbitrárias e induzia à autocensura dos meios de comunicação para evitar multas ou fechamentos temporários.
Chávez tinha pelo menos cinco canais de sinal aberto - incluindo o multiestatal Telesur, criado em 2005 -, dois jornais e dezenas de emissoras de rádio estatais, além de centenas de meios comunitários, estimulados pelo presidente desde 2001 e que se definiam como socialistas e chavistas, mesmo fora da rede oficial.
Em 2010 criou sua conta no Twitter @chavezcandanga, na qual uniu o sobrenome com a palavra ;candanga;, que na Venezuela é utilizada para definir um menino travesso.
Na rede social, na qual chegou a ser seguido por 3,7 milhões de pessoas, o presidente manteve contato com os venezuelanos, sobretudo entre 2011 e 2012, quando passou longas temporadas em Cuba para ser operado de tumores malignos e receber tratamentos contra o câncer.