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Vaticano prega silêncio, mas religiosos querem transparência

As conversas diárias dos cardeais dos Estados Unidos após os encontros em Roma com a imprensa parecem não ter agradado ao Vaticano

Renata Tranches
postado em 07/03/2013 09:31

As conversas diárias dos cardeais dos Estados Unidos após os encontros em Roma com a imprensa parecem não ter agradado ao Vaticano

Enquanto o mundo católico aguarda ansioso a escolha do novo papa, o Vaticano pregou o silêncio ontem em Roma. As coletivas diárias dos cardeais norte-americanos, paralelas às da imprensa oficial da Santa Sé, foram proibidas, e o camerlengo Tarcisio Bertone pediu aos cardeais que ;respeitem seu voto de silêncio;. Ao mesmo tempo, os religiosos reunidos em Roma, inclusive brasileiros, continuam a pressionar por mais informações sobre documentos secretos ligados ao escândalo do Vatileaks. Ao fim da quarta reunião preparatória, chamada Congregação Geral, a data para o início do conclave, mais uma vez, não foi anunciada.

As conversas diárias dos cardeais dos Estados Unidos após os encontros em Roma com a imprensa parecem não ter agradado ao Vaticano. O evento programado para a manhã de ontem foi cancelado. Segundo um comunicado oficial do prelado dos EUA, uma preocupação emergiu na Congregação Geral sobre vazamentos de processos sigilosos noticiados em jornais italianos. ;Os cardeais concordaram em não conceder entrevistas;, indicou o texto. O jornal italiano La Stampa, em seu canal exclusivo Vatican Insider, escreveu que o presidente da comunicação oficial da Santa Sé, padre Federico Lombardi, parecia irritado com as coletivas não oficiais e foi ;seco; ao ser questionado sobre o fato. ;Pergunte a eles (americanos);, respondeu o padre.



[SAIBAMAIS] Lombardi expressou, em sua conversa com os mais de 5 mil jornalistas credenciados, que o colégio de cardeais, como um todo, havia decidido manter um ;crescente grau de reserva; e que os encontros pré-conclaves são parte de um processo solene na escolha do papa. Por isso, discursou, precisam de um ;clima de confidencialidade;. Jornais italianos especularam, porém, que a principal razão seria a declaração do arcebispo de Boston, cardeal Sean O;Malley, na terça-feira, abrindo a possibilidade de um atraso no início do processo de escolha para que os religiosos tenham mais tempo a fim de se preparar. A declaração teria desagradado os cardeais italianos. O Vaticano negou que tenham havido qualquer pressão. O camerlengo, que assumiu as funções administrativas da Santa Sé após a renúncia do papa Bento XVI, em 28 de fevereiro, também defendeu a discrição dos cardeais durante a Congregação Geral.

Mas, enquanto o Vaticano pregava prudência, os cardeais insistiam por mais informações sobre o escândalo que antecedeu a renúncia de Bento XVI. Eles aguardam detalhes de um relatório secreto sobre o casos de intrigas na alta cúpula do Vaticano, no que ficou conhecido como Vatileaks. Os religiosos aptos a votarem no conclave ; um total de 115 com menos de 80 anos ; querem saber mais sobre o que aguarda o futuro líder da Igreja Católica. Segundo o Vatican Insider, o cardeal brasileiro dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, adicionou seu nome à lista dos que gostariam de ter acesso aos dados. Nesse relatório, elaborado por três cardeais, estaria o principal motivo da histórica renúncia. Especula-se que ele esteja ligado aos escândalos envolvendo sacerdotes em denúncias de pedofilia.

As conversas diárias dos cardeais dos Estados Unidos após os encontros em Roma com a imprensa parecem não ter agradado ao Vaticano

Dias antes dos encontros em Roma, o cardeal Keith O;Brien, que renunciou ao cargo de arcebispo de Edimburgo, o mais alto no Reino Unido, disse que não iria ao conclave depois de admitir ;conduta imprópria; com seminaristas no passado. Uma das principais associações internacionais de vítimas de abusos de religiosos ; a Rede de Sobreviventes Abusados por Padres (Snap, na sigla em inglês) ; divulgou ontem, em Roma, uma lista questionando os nomes de outros 12 cardeais. Segundo a rede, eles não deveriam ser considerados candidatos a papa por não terem sido rigorosos o suficiente com os casos de pedofilia. Ao ser questionado sobre a lista, Lombardi não se prolongou. ;Não cabe à Snap dizer quem deve participar ou não. Os cardeais podem tomar suas decisões sem a necessidade de pedir conselhos à Snap.;

Debates saudáveis
Apesar de polêmico, o debate que ocorre em Roma às vésperas do conclave é saudável para o futuro da Igreja Católica, na avaliação do professor Francisco Borba, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-São Paulo. Na opinião do especialista, o momento é de maior transparência quando se compara os pré-conclaves que elegeram João Paulo II e Bento XVI. No caso da pedofilia, por exemplo, os religiosos têm agora a chance de lidar com o problema e não se atrelar à antiga postura de tentar esconder ao máximo os escândalos. ;Neste momento, a Igreja pode se libertar de um monte de problemas existentes que o Vaticano não sabia como resolver;, avaliou ao Correio. ;Os cardeais, no (atual) conclave, se sentirão mais seguros de suas decisões, dos caminhos da Igreja do que se sentiam no passado. Eles sabem a gravidade dos problemas.;

O Vaticano aguarda, hoje, a chegada dos dois últimos arcebispos (Polônia e Vietnã) para completar o colégio de cardeais eleitores. Ontem, depois do encontro em Roma, os cardeais se reuniram para uma oração especial na Basílica de São Pedro.

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