Agência France-Presse
postado em 07/03/2013 15:45
Caracas - Um dia antes do funeral do presidente Hugo Chávez, os venezuelanos ainda não sabem onde será sepultado: uns afirmam que será em sua cidade natal Sabaneta, 430 km a sudoeste de Caracas, mas a avalanche de seguidores clama para que seja levado ao Panteão, onde estão os restos do libertador Simon Bolívar, gerando um debate nacional."Chávez no Panteão, junto com Simón", são os gritos ouvidos nos arredores da capela ardente, na Academia Militar, onde centenas de milhares de venezuelanos formam filas para passar em frente ao caixão onde jazem os restos do presidente.
O chanceler venezuelano Elías Jaua disse nesta quinta-feira que "no decorrer do dia vamos estar dando os detalhes do que vai ser a cerimônia oficial do dia de amanhã e a transferência do comandante presidente em direção ao local final onde irá repousar".
[SAIBAMAIS]A incógnita provocou nas ruas, nas redes sociais e nos meios de comunicação uma enorme discussão sobre se deve ser sepultado no Panteão Nacional, no centro histórico de Caracas. O artigo 187, parágrafo 15 da Constituição, estabelece que poderão ser concedidas "as honras do Panteão Nacional aos venezuelanos e venezuelanas ilustres, que tenham prestado serviços relevantes à República, depois de transcorridos 25 anos de seu falecimento".
Os critérios e procedimentos legais parecem não estar muito claros. O historiador José Jiménez sustenta que, pelo clamor popular, pode-se decidir pela sepultura no Panteão por decreto presidencial; mas outros analistas, como Agustín Blanco, afirmam que esta decisão caberia à Assembleia Nacional, de maioria governista.
"Não há nenhum precedente no qual um cidadão tenha sido levado ao Panteão nos dias de sua morte, mas pode haver uma solicitação que passe por cima da norma existente. A Assembleia pode fazer as considerações, justificar e aprovar por decreto", afirmou à AFP Blanco, catedrático da Universidade Central da Venezuela (UCV).
O historiador Freddy Rincón declarou a um jornal local que não estão estritamente definidos os critérios que devem ser cumpridos para que um cidadão seja levado ao Panteão Nacional. "Os critérios vão mudando de acordo com a época", afirmou.
Nos arredores do Panteão, cujas portas permanecem fechadas, policiais e funcionários impediam nesta quinta-feira que jornalistas se aproximassem para tirar fotografias do exterior, pedindo sua identificação, constatou a AFP. Um grupo de jardineiros cuidava das áreas verdes do local.
Anexo ao Panteão, Chávez promoveu a construção de um mausoléu para o Libertador Simón Bolívar, de 50 metros de altura e recoberto de cerâmica branca, que já está pronto, mas que não foi inaugurado. Alguns rumores apontam que agora será. "Somo-me à maioria do Povo venezuelano que pede o nosso Comandante no Panteão Nacional, da Assembleia Nacional faremos tudo para que assim seja", escreveu o presidente parlamentar Diosdado Cabello em sua conta no Twitter.
No cortejo seguido por uma maré humana na quarta-feira, do hospital militar, onde Chávez morreu na tarde de terça-feira depois de batalhar desde junho de 2011 contra o câncer, até a Academia Militar, as pessoas pediam para levá-lo ao Panteão. "A voz do povo é a voz de Deus", acrescentou Cabello em sua conta no Twitter.
Cerca de 430 km a sudoeste, no pequeno povoado de Sabaneta (estado de Barinas), os moradores se apropriam, por direito próprio, do que consideram que seria um privilégio.
"Estamos dando um realce para homenagear o presidente, mas ainda não há nenhuma notícia de que vamos trazê-lo, viemos ajeitar sua casa", disse à AFP uma mulher que enfeitava com flores e bandeiras a residência da avó de Chávez, hoje convertida em um edifício de três andares que abriga uma pré-escola.
O ministro das Comunicações, Ernesto Villegas, afirmou que o governo respeitará a decisão que a família do presidente adotar. Versões nas redes sociais afirmam que a mãe do presidente decidiu que será sepultado em Sabaneta. A impaciência aumenta e em breve, segundo declarações de Jaua, o mistério poderá ser revelado.