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A fonte de petróleo ainda é uma ilusão distante nas Ilhas Malvinas

Atualmente, o principal recurso do arquipélago é a pesca

Agência France-Presse
postado em 08/03/2013 19:12
Londres - A promessa de uma fonte de petróleo nas Malvinas aprofunda as tensões britânico-argentinas, mas a exploração comercial destas reservas de tamanho incerto parece estar distante e, até agora, o arquipélago se contenta com a pesca como principal recurso.

Criticando a guerra das Malvinas em 1982, o escritor argentino, Jorge Luis Borges comparou os dois países beligerantes a "dois carecas brigando por um pente". Desde então, a descoberta de hidrocarbonetos, em 1998, transformou estas inóspitas ilhas em uma oportunidade econômica. Uma década depois, encorajadas pela alta dos preços do barril de petróleo, cinco pequenas empresas britânicas lançaram campanhas de exploração.

"Houve duas descobertas significativas de hidrocarbonetos até agora ao norte das ilhas: a da Rockhopper no campo de Sea Lion, que é agora o projeto mais avançado e uma jazida de condensados de gás pela Borders & Southern", explicou à AFP Juliette Kerr, especialista do instituto IHS Global Insight.

Rockhopper, que deve seu nome a um tipo emblemático de pinguins das ilhas, avalia em 321 milhões de barris as reservas recuperáveis de Sea Lion. A empresa espera extrair a primeira gota de petróleo no final de 2017 e bombear 30.000 barris diários a partir de 2019. Darwin, explorado por Border & Southern, poderia gerar 190 milhões de barris de petróleo equivalentes. Contudo, numerosas áreas ainda estão amplamente inexploradas e alguns especialistas acreditam que as bacias das Malvinas poderiam conter até mais de 8 bilhões... quase o triplo que as reservas provadas de petróleo no mar do Norte britânico.



Enquanto qualquer decepção sobre uma perfuração provoca quedas bruscas das ações dessas pequenas empresas na bolsa, "a recente chegada das companhias mais experientes às Malvinas foi um passo positivo" para dar credibilidade aos projetos em curso, destacou Laura Loppacher, da Jefferies.

Ignorando as ameaças do governo da presidente argentina Cristina Kirchner, a britânica Premier Oil comprou em julho 60% das licenças de exploração da Rockhopper, que financiará seus futuros projetos de prospecção, o que supõe um investimento total de 1 bilhão de dólares.

Falkland Oil & Gas (FOGL) assinou contratos de arrendamento com os grupos norte-americanos Noble e italiano Edison (controlado pelo francês EDF), que aportarão até 320 milhões de dólares. "Politicamente era importante que empresas não-britânicas se envolvessem na região" porque esta internacionalização "é um sinal estimulante para os investimentos", disse um especialista que pediu anonimato.

A tensão entre Londres e Buenos Aires "vai continuar sendo alta, mas não deve ter consequências concretas sobre as operações petrolíferas. A Argentina poderia tomar medidas de represália inesperadas, mas suas opções continuam sendo limitadas", disse Kerr. Como as empresas envolvidas operam fora da jurisdição argentina, qualquer ameaça de ação judicial tem poucas possibilidades de prosperar.

Por outro lado, a situação poderia complicar a exploração petrolífera: "Como não será possível construir um oleoduto para a Argentina, que seria a saída natural do petróleo das Malvinas, as empresas teriam que transportá-lo por barco" para outras regiões, um custo suplementar, disse Kerr. O governo local já previu que um eventual boom petrolífero permitiria aos habitantes financiar a manutenção dos 1.300 militares britânicos no arquipélago.

Contudo "não é um fato. É preciso se preparar também para a possibilidade de viver sem petróleo. Não será o fim das Ilhas porque temos muitas outras coisas", afirmou à AFP Sukey Cameron, representante oficial do governo do arquipélago em Londres. As Malvinas sonham em estimular o turismo, mas, no momento, "nossa principal fonte de renda é, de longe, a pesca", insistiu Jan Cheek, membro da assembleia legislativa das Ilhas.

Em entrevista à AFP, Cheek lamentou a falta de diálogo com a Argentina neste sentido. "Poderíamos voltar a conversar, como fazíamos antes (com o governo de Carlos Menem nos anos 90) sobre a conservação das reservas pesqueiras no Atlântico Sul-ocidental", disse. "Isso beneficiaria a seus pescadores e aos nossos".

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