Agência France-Presse
postado em 12/03/2013 11:17
Seul - O dirigente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, designou uma pequena ilha sul-coreana, perto da fronteira marítima entre os dois países, como primeiro alvo em caso de conflito, enquanto a tensão permanece elevada na península, informou a imprensa estatal.A ilha de Baengnyeong será o primeiro alvo do exército norte-coreano, anunciou Kim, durante uma visita aos quartéis militares próximos da fronteira na segunda-feira, o primeiro dia das manobras militares conjuntas de Seul e Washington, muito criticadas por Pyongyang.
Baengnyeong tem 5.000 habitantes e é a base de várias unidades militares. Nos últimos dias, a Coreia do Norte ameaçou com uma "guerra termonuclear", advertiu o governo dos Estados Unidos que estava exposto a um "ataque nuclear preventivo" e denunciou o armistício que acabou com a Guerra da Coreia em 1953.
Mas a Coreia do Sul se negou nesta terça-feira (12/3) a reconhecer a decisão da Coreia do Norte de denunciar unilateralmente o armistício alcançado há 60 anos pelos dois países e exigiu que Pyongyang encerre a nova retórica belicista. "A denúncia unilateral ou o cancelamento do acordo de armistício não estão previstos em seus próprios dispositivos nem no direito internacional", afirmou à imprensa o porta-voz do ministério sul-coreano das Relações Exteriores, Cho Tai-young.
Na origem do clima explosivo está o lançamento em dezembro pela Coreia do Norte de um foguete, considerado por Seul e seus aliados como um míssil balístico. Em fevereiro, o país executou o terceiro teste nuclear, ao qual o Conselho de Segurança da ONU respondeu com novas sanções contra Pyongyang na sexta-feira passada.
Em novembro de 2010, Pyongyang bombardeou a ilha de Yeonpyeong, também próxima da fronteira marítima, um ataque que matou quatro sul-coreanos.
"Uma vez dada a ordem, deverão romper a coluna dos inimigos dementes, deverão cortar o pescoço e assim mostrar claramente o que é uma verdadeira guerra", disse Kim Jung-un, de acordo com declarações divulgadas pela agência oficial norte-coreana KCNA.
Um funcionário do governo da ilha ameaçada, Kim Young-Gu, disse que os abrigos para civis estavam preparados para receber a população e que todos estavam em alerta. "Não há uma fuga em massa para o continente, mas, para ser sincero, existe um pouco de medo", declarou.
Pyongyang questiona a linha de delimitação marítima entre o Norte e o Sul, traçada pela ONU depois da Guerra da Coreia (1950-1953). Vários confrontos letais entre os dois países aconteceram na região nos últimos anos.
Para o ministério sul-coreano da Defesa, o Norte tenta exercer "uma pressão psicológica" sobre a Coreia do Sul e deve iniciar em breve manobras militares. "Se o Norte provocar, responderemos de maneira a causar mais danos", declarou o porta-voz do ministério, Kim Min-seok.
Na segunda-feira, o Departamento do Tesouro americano decidiu aplicar sanções contra o Banco Norte-Coreano de Comércio Exterior (FTB), para conter a entrada de divisas que Pyongyang utiliza para financiar seus programas nuclear e balístico.
A Casa Branca admitiu preocupação com a "retórica belicosa da Coreia do Norte", mas destacou que o país não conseguirá nada com ameaças e provocação. O chefe nacional da inteligência americana, James Clapper, alertou nesta terça-feira no Congresso para os riscos à segurança que o país enfrenta, referindo-se a eventuais ataques cibernéticos, ao Irã, à Coreia do Norte, à Al-Qaeda e à Síria.
Sobre a questão nuclear, o alto funcionário se referiu também à Coreia do Norte, o outro inimigo público dos Estados Unidos. "Apesar de avaliarmos com um grau relativamente baixo a probabilidade de a Coreia do Norte tentar utilizar armas nucleares contra as forças dos Estados Unidos ou seus aliados para preservar o regime de Kim (Jong-un), não sabemos que representaria, da perspectiva da Coreia do Norte, cruzar esse limiar", afirmou Clapper.
Na segunda-feira, Coreia do Sul e Estados Unidos - país que mantém 28.500 soldados no sul da península - iniciaram as manobras militares anuais, chamadas de "Key Resolve", que são em sua maioria virtuais, mas que mobilizam milhares de soldados (10.000 sul-coreanos e 3.500 americanos).
Como em todos os anos, Pyongyang condenou os exercícios, que compara a uma invasão do Norte pelo Sul com a ajuda de Washington, e suspendeu o telefone vermelho, a linha de comunicação entre Pyongyang e Seul para casos de emergência.