Agência France-Presse
postado em 13/03/2013 14:16
Bagdá - Dez anos após ser invadido, o Iraque de 2013 está mergulhado em uma grave crise política agravada pelo conflito religioso, e não parece em nada com a democracia anunciada pelos Estados Unidos. O roteiro traçado pelo então presidente americano, George W. Bush, se baseava em um único argumento. As tropas americanas se lançaram no deserto iraquiano em 20 de março de 2003, apoiadas por uma coalizão formada por dezenas de países, com a ordem de encontrar supostas armas de destruição em massa que estariam em poder do regime de Saddam Hussein.A existência dessas armas nunca foi confirmada. E muito rapidamente, os Estados Unidos trabalharam para convencer o Iraque a se juntar aos seus aliados do Ocidente. Mas, de acordo com diplomatas ocidentais, a queda de Saddam Hussein permitiu, sobretudo, que o Irã mantivesse uma influência inesperada sobre a condução dos assuntos de seu vizinho.
Pior ainda, desde a saída dos últimos soldados americanos do Iraque em dezembro de 2011, Washington tem dificuldade para se fazer ouvir em Bagdá. Em 2003, o governo Bush defendeu "argumentos de fachada, como a existência de armas de destruição em massa, as ligações (do Iraque) com a Al-Qaeda, os riscos que apresentava para a segurança dos Estados Unidos", resume Crispin Hawes, diretor do serviço Oriente Médio da Eurasia Group. "Atualmente, tudo isso parece grotesco", considera.
E ainda havia outro argumento "subjacente: a ideia de que o Iraque poderia se tornar um aliado dos Estados Unidos e que a retomada da economia poderia se transformar em catalizador do crescimento no Iraque e em sua região, tornando-se um exemplo a ser seguido", acrescentou.
Sabor amargo
"Tudo isso tem um gosto amargo hoje em dia", conclui. A guerra não durou muito tempo. Os bombardeios começaram em 19 de março de 2003, na véspera da invasão. Bagdá caiu em 9 de abril, e no dia 1; de maio Bush declarava "Missão cumprida".
[SAIBAMAIS]Mas o pós-guerra se mostrou muito mais sangrento do que a própria guerra. O atentado contra um mausoléu xiita em Samarra, no norte de Bagdá, no dia 22 de fevereiro de 2006, deu início a um conflito religioso de uma violência sem precedentes.
De 2006 a 2008, os redutos sunitas de Al-Anbar e Mossul, as cidades sagradas xiitas de Najaf e Kerbala, assim como Bagdá, se tornaram palco de combates de rua, atentados e assassinatos, colocando insurgentes xiitas e sunitas de um lado e as forças da coalizão de outro. As hostilidades causaram a morte de 4.800 soldados estrangeiros, em sua grande maioria americanos.
E, apesar das tropas estrangeiras terem retornado para seus países e a violência ter perdido intensidade, os atentados continuam a matar quase diariamente no Iraque. Desde a invasão de 2003, ao menos 110.000 civis iraquianos morreram em meio à violência.
A reconciliação nacional e uma improvável consolidação das instituições, que deveriam caminhar de mãos dadas com a diminuição da violência, continuam a ser apenas um pensamento positivo. Bagdá não suporta ver a região autônoma do Curdistão (norte) assinar, sem o seu prévio acordo, contratos com companhias de petróleo estrangeiras. Os dois disputam ainda uma faixa de território que inclui Kirkuk, onde se concentra parte das reservas de hidrocarbonetos do país.
Mas, por enquanto, a principal questão é a retomada dos conflitos religiosos que o governo tenta controlar, adiando ao mesmo tempo a implementação de políticas reais para resolver outras importantes questões como a de infraestrutura, corrupção, desemprego e insegurança. Desde o final de dezembro, a minoria sunita cobra o fim da marginalização de que considera ser vítima por parte do governo do xiita Nuri al-Maliki. As manifestações entraram em seu terceiro mês consecutivo exigindo da saída de Maliki.