PARIS - O ex-presidente Nicolas Sarkozy, apoiado por seu campo político, acusou nesta sexta-feira (22/3) a justiça francesa de tê-lo tratado de forma escandalosa, depois de ter sido acusado na véspera de "abuso de incapaz" no caso da multimilionária Liliane Bettencourt para financiar sua campanha eleitoral de 2007.
O ex-presidente (2007-2012) "considera que o tratamento que lhe foi infligido" pela justiça "é escandaloso", indicou à rádio RTL seu advogado Thierry Herzog, que colocou em xeque a imparcialidade do juiz de instrução Jean-Michel Gentil.
Após cinco anos de investigação, Sarkozy foi indiciado por abuso de incapaz por ter supostamente se beneficiado da fortuna da herdeira da gigante mundial dos cosméticos L;Oreal, Liliane Bettencourt. Esta decisão judicial chega num momento em que o ex-presidente considerava um eventual retorno à política.
[SAIBAMAIS] Na quinta-feira, após várias horas de acareação com funcionários da família Bettencourt, Sarkozy foi notificado da acusação formal de "abuso de incapaz, cometido em fevereiro de 2007 e ao longo de 2007, contra Liliane Bettencourt", segundo a promotoria de Bordeaux.
O caso começou em julho de 2010, quando a ex-contadora da família Bettencourt declarou à polícia que o então homem de confiança dos Bettencourt, Patrice de Maistre, tinha lhe pedido 150.000 euros em dinheiro no início de 2007. De Maistre assegurou, segundo a contadora, que o dinheiro era destinado a Eric Woerth, então tesoureiro da campanha de Sarkozy e depois ministro.
Várias pessoas próximas à milionária declararam que tinham visto várias vezes Sarkozy durante esse período. Os juízes tentam determinar se Sarkozy cometeu um abuso de incapaz contra Bettencourt, então com 84 anos, ao pedir dinheiro para financiar sua campanha.
O crime de financiamento ilegal prescreve em três anos, mas não o de abuso de incapaz, que pode ser castigado com até três anos de prisão e com uma multa de 375 mil euros.
Herzog afirmou recentemente que Sarkozy visitou apenas uma vez a casa de Bettencourt durante sua campanha de 2007, para se reunir brevemente com André Bettencourt, o marido da milionária, falecido em novembro do mesmo ano.
Direita denuncia "crueldade dos juízes"
Em uníssono, a direita francesa denunciou nesta sexta-feira uma "crueldade dos juízes" contra Sarkozy.
O ex-primeiro-ministro, François Fillon, classificou a acusação de Sarkozy como "injusta e extravagante", enquanto uma pessoa próxima de Sarkozy, o deputado Henri Guaino, afirmou que o juiz Gentil havia "desonrado a justiça".
Esses ataques contra a justiça francesa foram considerados intoleráveis pelo líder do partido socialista, Harlem Désir, que advertiu a direita contra qualquer tipo de pressão.
Já a ministra de Habitação, a ecologista Cécile Duflot, considerou normal o indiciamento de Sarkozy. Para a direita francesa, recém recuperada da crise política que atravessou há alguns meses, este anúncio representa um duro golpe, sem que, até o momento, nenhuma personalidade, à exceção de Sarkozy, tenha se posicionado como candidata indiscutível para as eleições presidenciais de 2017.