Renata Tranches
postado em 24/03/2013 06:03
Reunidos por pouco mais de 24 horas nos 553m; da Capela Sistina, 115 homens inspirados pelo Espírito Santo escolheram o novo líder da Igreja Católica. Aos olhos dos espectadores leigos, as conversas e os argumentos debatidos sob os afrescos de Michelangelo ; tudo preservado pelo sagrado voto de silêncio ; nunca irão além das especulações. Mas a decisão tomada ali deixou evidente que, assim como a eleição de João Paulo II, em 1978, esteve ligada ao contexto político da época, a escolha do papa Francisco, ainda que não intencionalmente, reflete a geografia econômica e política do mundo no início do século 21. A opção por um homem vindo ;quase do fim do mundo;, da periferia da Igreja, tirou da Europa a primazia milenar no comando da Santa Sé. O continente, que já não ocupa o centro do poder global desde meados do século 20, abriga a sede da Igreja Católica, mas a origem latino-americana de seu novo chefe demonstra a preocupação de torná-la cada vez mais universal, inclusive no seu poder de decisão.
Os compromissos inaugurais de Francisco ilustram o cenário. Os dois primeiros chefes de Estado a serem recebidos pelo pontífice foram duas presidentes sul-americanas: a conterrânea argentina, Cristina Kirchner, e a brasileira, Dilma Rousseff. Com ambas, o papa reforçou o tema social e falou da preocupação com os mais pobres, algo que tem priorizado desde a primeira fala, em seguida à eleição. A América Latina ainda carrega a triste marca de ser a região mais desigual do mundo, segundo o último relatório do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU/Habitat), divulgado em agosto passado. Ao mesmo tempo, é nela que estão algumas das principais nações emergentes, cada vez com mais voz e maior presença internacional. Como a própria presidente Dilma costuma ressaltar, a região continuou a crescer ao longo da crise no Hemisfério Norte ; especialmente na Europa.