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Nevasca 'apocalíptica' causa engarrafamento e falta de pão em Kiev

Milhares de pessoas tiveram que passar a madrugada de sexta para sábado imobilizadas em seus carros, algo nunca visto em Kiev, uma capital habituada a problemas de tráfego

Agência France-Presse
postado em 25/03/2013 20:06
KIEV - Alguns passaram a noite presos em engarrafamentos, enquanto outros aproveitaram para esquiar na cidade depois que uma nevasca sem precedentes paralisou a vida em Kiev durante o fim de semana, provocando escassez de pão e suscitando apelos populares pela demissão de lideranças municipais.

As nevascas inéditas começaram sexta-feira durante o dia e prosseguiram, praticamente sem interrupção, até o domingo, levando o caos à cidade, onde vivem três milhões de habitantes.

Os moradores negligenciaram em massa as advertências da polícia rodoviária, que tinha pedido desde a sexta-feira para que as pessoas não usassem seus carros. Resultado: muitos ficaram presos à noite em engarrafamentos gigantescos, enquanto veículos limpa-neve eram itens raros.

Milhares de pessoas tiveram que passar a madrugada de sexta para sábado imobilizadas em seus carros, algo nunca visto em Kiev, uma capital habituada a problemas de tráfego.

"Ninguém se ocupa de nós. Eu não vi nenhum limpa-neve em toda a noite", contou em um fórum da internet Omsa, que ficou mais de treze horas engarrafada antes de abandonar seu carro em uma estrada e caminhar vários quilômetros até a estação de metrô mais próxima.

"Por volta das oito da noite, caí em prantos porque não conseguia mais (...) Tinha vontade de morrer", acrescentou.

No sábado, o centro de Kiev estava quase deserto: os poucos veículos transitavam por ruas cobertas de neve, em meio a alguns pedestres que caminhavam no meio da rua, pois a maioria das calçadas estava coberta de montanhas de neve.

As nevascas foram recorde em Kiev desde que tiveram início os registros meteorológicos em 1881, declarou nesta segunda-feira o diretor dos serviços meteorológicos ucranianos, Mykola Koulbida.

Mais de 60 centímetros de neve caíram durante o fim de semana.

Para enfrentar a situação, as autoridades decretaram estado de emergência na capital e apelaram ao exército, que enviou blindados para ajudar a limpar as ruas e liberar os veículos presos. A prefeitura também decretou feriado nesta segunda-feira em Kiev.

O primeiro-ministro Mykola Azarov também foi vítima das intempéries enquanto fazia uma inspeção na cidade no domingo. Sua comitiva ficou presa em uma área coberta de neve ligando as margens do rio Dnipro, e precisou recuar, informou sua assessoria de imprensa.

Problemas de circulação também provocaram falta de pão e laticínios, que não puderam ser encontráveis em muitos supermercados de Kiev.

Até mesmo o funcionamento dos serviços fúnebres foi afetado, já que em um cemitério municipal que recebia 40% dos enterros acabou tendo que fechar, segundo um alto funcionário da prefeitura.

A gestão da crise, chamada de "Apocalipse" ou "Armagedon" pela mídia e os internautas, desencadeou uma avalanche de críticas, com a oposição pedindo a exoneração dos dirigentes municipais.

O chefe da administração municipal, Olexandre Popov, acabou apresentando suas desculpas esta segunda-feira em declarações ao site Korrespondent.net, pelos "inconvenientes" e reconheceu que sua administração cometeu "alguns equívocos".

A situação continuava complicada nesta segunda-feira, já que muitas estradas permaneciam obstruídas pela neve. Apenas uma parte dos transportes coletivos retomou seus serviços.

Apesar dos transtornos, o clima severo fez a alegria dos amantes dos esportes de inverno.

Algumas pessoas aproveitaram para circular pelas ruas em esquis, enquanto os amantes do esqui alpino e do snowboard desciam a rua histórica de Saint-André, em pleno centro da cidade, conhecida por ser íngreme, constatou um jornalista da AFP.

Uma ONG ambientalista alertou para o risco de inundações em Kiev, depois que os serviços de meteorologia anunciaram o retorno das temperaturas acima de zero a partir de 30 de março.

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