Agência France-Presse
postado em 26/03/2013 19:56
DOHA, 26 Mar 2013 (AFP) - Os países árabes proclamaram seu direito de armar a rebelião que combate o regime de Bashar al-Assad depois tê-la concedido o assento da Síria na Liga Árabe, durante um encontro de um dia no Qatar.O chefe demissionário da oposição, Ahmad Motaz Al-Khatib e o "primeiro-ministro" interino Ghassan Hitto ocuparam seus lugares sob os aplausos dos chefes de Estado árabes na abertura da cúpula no salão onde a bandeira da revolução síria substituiu a da República síria.
Motaz defendeu diante dos líderes árabes a autonomia da oposição frente às ingerências externas e pediu a extensão do escudo antimísseis da Otan na Turquia para o norte sírio, algo que Washington recusou.
Em sua resolução final, os países árabes ressaltaram que uma solução política na Síria, devastada por dois anos de guerra, constitui "uma prioridade". Mas eles acrescentaram que "cada Estado membro tem o direito de mobilizar todos os meios de autodefesa, incluindo militares, para apoiar a resistência do povo sírio".
Apenas Bagdá e Argel manifestaram suas reservas, enquanto o Líbano se distanciou do texto, no momento em que a violência se intensifica em diversas frentes na Síria, deixando dezenas de mortos, como em todos os dias, segundo uma ONG síria.
Os árabes confirmaram que concederão à Coalizão Nacional opositora o assento da Síria "na Liga Árabe e nas suas organizações e conselhos especializados até a realização de eleições e a formação de um governo" nesse país.
"O apoio militar não quer dizer excluir uma solução política", declarou o chefe da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, durante uma entrevista coletiva à imprensa após o encontro.
Em seu discurso na cúpula, Khatib pediu emocionado a defesa do povo sírio "massacrado há dois anos diante dos olhos do mundo inteiro". Segundo ele, cabe apenas "ao povo sírio escolher aquele que o governará, e a maneira como será governado. O povo recusa qualquer mandato".
Para a imprensa oficial em Damasco, a concessão do assento da Síria, vago desde novembro de 2011, à oposição é "um roubo cometido pelo emirado do Qatar (...) e por outros regimes árabes traidores".
O Qatar é o principal financiador da oposição. Esse país fez pressão para que a cadeira da Síria na Liga fosse concedida aos opositores. O governo qatari também é acusado pelo regime sírio de armar os rebeldes.
O site da Liga Árabe foi hackeado por partidários do regime sírio.
Sem extensão do escudo antimísseis
Khatib também pediu que a oposição obtenha "o assento da Síria na ONU e nas organizações internacionais" e pediu "o congelamento dos fundos que o regime saqueou do povo", estimados pela oposição em cerca de 2 bilhões de dólares.
Ele também disse que havia pedido ao secretário de Estado John Kerry "a extensão para o norte sírio do escudo antimísseis Patriot" mobilizado na vizinha Turquia. Mas a Casa Branca indicou que a Otan não fornecerá mísseis Patriot para proteger os redutos rebeldes na Síria.
No domingo, Khatib anunciou sua surpreendente renúncia, como protesto pela passividade da comunidade internacional e acusando os países que apoiam a oposição "de tentar dominar a revolta". Mas ele anunciou em seguida a sua participação no encontro.
De acordo com o opositor Khaled al-Saleh, sua renúncia "não foi aceita" e "a maior parte dos membros da Coalizão quer" que ele permaneça, no momento em que a oposição encontra dificuldades para se unir.
Além do conflito sírio que deixou mais de 70.000 mortos e um milhão de refugiados, a cúpula adotou uma proposta do Qatar levando à criação de um fundo de um bilhão de dólares para Jerusalém.
Ela adotou ainda a proposta do Qatar de realizar no Cairo uma mini-cúpula árabe para selar a reconciliação entre os grupos palestinos Fatah e Hamas.