Agência France-Presse
postado em 29/03/2013 16:09
Vaticano - O papa Franciso voltou a inovar, ao lavar os pés de dois jovens muçulmanos, na Quinta-feira Santa, valorizando a fraternidade e rejeitando a discriminação, asseguram os vaticanistas."Não é uma ruptura, também não é uma contradição com a doutrina. Francisco não desrespeitou uma regra, já que o lava-pés é um rito que não tem valor sacramental. Teria sido diferente se tivesse dado a comunhão a algum desses jovens", comentou o vaticanista Sandro Magister, lembrando que as celebrações nas igrejas "são abertas a todos".
[SAIBAMAIS]O papa argentino reproduz um gesto de Cristo com os apóstolos. Na prisão de menores "Casal del Marmo" com jovens de diferentes condições, nacionalidades e origens, simplesmente quis mostrar que o amor de Cristo não tem fronteiras, acrescentou.
"Esse gesto não tem um significado religioso. Poderiam ser jovens budistas o sikhs. Lavou seus pés porque são jovens isolados, não quis diferenciar", afirmou o vaticanista Marco Tosatti.
Para o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, esses dois jovens "são um componente importante da comunidade" da prisão de menores. "Seria estranho se não tivessem feito parte do grupo", considerou ele nesta sexta-feira em uma entrevista coletiva à imprensa.
As imagens captadas pelas câmeras do Vaticano, as únicas autorizadas a entrar na penitenciária, mostram apenas os pés dos jovens.
De qualquer formas, ninguém os obrigou a participar da cerimônia, que deixou a todos emocionados no local, o que chegou a fazer com que um dos jovens que ia fazer parte da cerimônia tivesse que ser substituído na última hora.
Embora considerem Cristo um profeta, nem todos os muçulmanos podem ter apreciado o gesto do Papa. Os imãs são contra qualquer tentativa dos cristãos de cooptar muçulmanos para a sua religião. A apostasia continua sendo anátema no Islã.
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O ex-cardeal e arcebispo de Buenos Aires Jorge Bergoglio já deixou clara a importância que concede às relações respeitosas com o Islã na homilia que pronunciou em sua missa de entronização.
As autoridades muçulmanas, sobretudo a universidade sunita Al-Azhar do Cairo, receberam favoravelmente a renúncia de Bento XVI e a escolha do papa argentino, considerando que os problemas se devem às más relações com o "papa alemão".
Mas a delegação muçulmana foi bastante reduzida na missa de inauguração do papado de Francisco, com personalidades de segundo escalão, ilustrando a desconfiança reinante após o discurso do papa emérito Bento XVI, em 2006, no qual deu a entender que o Islã está associado à violência.
Depois dessas declarações, Bento XVI multiplicou os gestos para demonstrar seu respeito pelo Islã, chegando inclusive a rezar em uma mesquita de Istambul.
Em setembro, durante uma viagem ao Líbano, exortou cristãos e muçulmanos do Oriente Médio a coexistirem pacificamente sem tentar impor sua hegemonia sobre o outro.
Mas as relações com o Islã são tensas em diversos países do mundo, devido ao crescimento do islamismo. Bento XVI condenou todos os fundamentalismos religiosos, sejam cristãos ou muçulmanos e estendeu a mão ao Islã moderado, pedindo que esclarecesse sua associação às vezes ambígua com o Islã radical e violento.