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Pyongyang bloqueia acesso a importante complexo industrial intercoreano

O local, onde trabalham 53 mil norte-coreanos, sempre se manteve aberto, apesar das diversas crises na península, com exceção de apenas um dia, em 2009

Agência France-Presse
postado em 03/04/2013 10:44
Autoridades norte-coreanas não estavam permitindo que todos os trabalhadores sul-coreanos em parque industrial próximo à fronteira
Seul
- A Coreia do Norte bloqueou nesta quarta-feira (3/4) o acesso a um complexo industrial intercoreano de vital importância, elevando a tensão regional a um ponto considerado explosivo pela Rússia. A Coreia do Sul indicou que os 861 sul-coreanos presentes no complexo de Kaesong eram livres para partir, mas se disse disposta a encarar uma ação militar para proteger, em caso de necessidade, a segurança de seus cidadãos nestas instalações, situadas em território norte-coreano, a 10 km da fronteira.

"Temos preparado um plano de emergência, incluindo uma possível ação militar", disse o ministro sul-coreano de Defesa, Kim Kwan-jin. Anteriormente, o governo sul-coreano havia informado sobre a decisão de Pyongyang de bloquear o acesso a Kaesong.



"O Norte nos notificou nesta manhã que só estavam autorizadas as viagens de volta de Kaesong e ficava proibida a entrada no complexo", indicou o porta-voz do ministério sul-coreano da Unificação, a cargo das relações entre os dois países separados desde a guerra da Coreia, de 1950 a 1953. O local, aberto em 2004, simboliza a cooperação intercoreana e constitui uma fonte essencial de renda para a Coreia do Norte, um país comunista que manteve praticamente intactas suas estruturas políticas e econômicas da época da Guerra Fria.

O local, onde trabalham 53 mil norte-coreanos, sempre se manteve aberto, apesar das diversas crises na península, com exceção de apenas um dia, em 2009.

[SAIBAMAIS]Escalada de tensões
O bloqueio de Kaesong ocorre no âmbito de uma escalada de tensões que começou em dezembro, com o lançamento de um foguete norte-coreano - considerado pelo Ocidente um teste de míssil de longo alcance - seguido em fevereiro pelo terceiro teste nuclear norte-coreano. Como consequência, a ONU impôs novas sanções ao regime de Pyongyang, enquanto os Estados Unidos e a Coreia do Sul realizavam manobras militares conjuntas durante as quais Washington mobilizou aviões B-52, com capacidade de transporte de armas nucleares.

Em resposta, a Coreia do Norte ameaçou desencadear ataques de mísseis e bombardeios nucleares contra a Coreia do Sul e contra posses americanas no Pacífico. No sábado, Pyongyang se declarou em estado de guerra com o Sul e na terça-feira anunciou sua intenção de reativar um reator nuclear desativado em 2007, desafiando as resoluções da ONU que proibiam qualquer programa atômico.

Os Estados Unidos prometeram neste mesmo dia que defenderão e protegerão seus aliados sul-coreanos e o secretário de Estado, John Kerry, classificou de perigoso e irresponsável o comportamento do líder máximo norte-coreano, Kim Jong-un.
Soldados sul-coreanos inspecionar veículos de artilharia móveis depois de exercício militar perto da zona desmilitarizada que separa as duas Coreias

Situação explosiva

As tensões acenderam os alarmes regionais. A Rússia expressou nesta quarta-feira sua preocupação por uma situação que considera explosiva. "O que está acontecendo preocupa, sem dúvidas, a Rússia, porque é uma situação explosiva perto de nossas fronteiras no Extremo Oriente", declarou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Igor Morgulov.

"Na situação atual muito tensa, basta um erro humano banal ou uma falha técnica para que a situação fique fora de controle", advertiu. A China, principal aliada da Coreia do Norte, pediu calma e moderação a todas as partes envolvidos no conflito.

Já a França, outro membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, convocou a China a exercer toda a sua influência sobre seu aliado norte-coreano. "Pedimos uma reunião do Conselho de Segurança e pedimos em particular aos chineses, que têm poder sobre a Coreia do Norte, que intervenham", revelou o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, em declarações televisionadas.

Quando foi perguntado se temia que os norte-coreanos desencadeiem um ataque nuclear, Fabius respondeu: "São tão imprevisíveis que não podemos descartar nada".

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