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Restos mortais de poeta chileno Pablo Neruda, morto em 1973, são exumados

A operação busca determinar se Neruda morreu pelo agravamento de um câncer de próstata, como sustenta seu atestado de óbito, ou se foi assassinato

Agência France-Presse
postado em 08/04/2013 13:42
O Nobel de Literatura em foto de 1971: suspeitas de assassinatoIsla Negra, Chile - A exumação dos restos mortais do poeta chileno Pablo Neruda foi realizada nesta segunda-feira (8/4) em Isla Negra, na costa central do Chile, no âmbito de um processo judicial para esclarecer se ele foi assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet ou se morreu de câncer, como afirma a versão oficial.

O trabalho começou com a abertura da cripta onde estavam os restos mortais do Prêmio Nobel de Literatura (1971), perto do mar e ao lado da sepultura de sua terceira esposa Matilde Urrutia, sob a supervisão do juiz responsável, Mario Carroza, além de advogados e dezenas de peritos forenses.

A operação na casa-museu no balneário de Isla Negra, 120 km a oeste de Santiago, onde Neruda viveu seus últimos dias, foi mais rápida que o previsto, já que os restos estavam em melhores condições do que se pensava: os nichos de Neruda e de sua esposa se encontravam absolutamente separados, o que facilitou sua identificação, comprovou a AFP.

"Na parte judicial nos encontramos de acordo com a diligência", comentou o juiz Carroza aos jornalistas após a exumação, que se estendeu por menos de duas horas e atraiu muitos meios de comunicação. "Ao tirar a urna, havia uma placa mofada pelo tempo, descolorida, e colocaram um líquido milagroso que fez surgir o nome de Pablo Neruda na placa, e efetivamente corroborava o que eu dizia: que havia sido enterrado do lado esquerdo, olhando para o mar", relatou à AFP o sobrinho do poeta, Rodolfo Reyes.



"Não houve necessidade de abrir o caixão, apenas de retirá-lo", acrescentou. Após a exumação, os restos de Neruda foram levados ao Departamento de Antropologia do Serviço Médico Legal do Chile (SML), em Santiago, que estará completamente dedicado a este caso. Um grupo de arqueólogos, antropólogos, médicos, toxicologistas e representantes da Cruz Vermelha Internacional participam dos trabalhos.

"Fiquem tranquilos que serão feitas todas as perícias necessárias e na parte judicial será possível estabelecer, de acordo com o relatório fornecido pelos peritos, qual foi a causa da morte do senhor Neruda", afirmou Carroza. "Não há uma estimativa de tempo. Os peritos devem trabalhar pelo tempo necessário com o objetivo de alcançarem resultados", acrescentou o juiz.

Assassinado ou morto por um câncer?
A operação busca determinar se Neruda morreu em 1973 pelo agravamento de um câncer de próstata, como sustenta seu atestado de óbito, ou se faleceu após ser inoculado com uma misteriosa injeção um dia antes de viajar ao México, onde pensava em se exilar e comandar a oposição a Pinochet, como denuncia seu ex-motorista, Manuel Araya.

Segundo Araya, na tarde de 23 de setembro de 1973 - apenas doze dias após a instauração da ditadura de Pinochet - Neruda contou a ele e a sua esposa Matilde Urrutia que havia recebido uma injeção no peito, o que o havia feito se sentir muito mal.

Quase seis horas depois, o poeta faleceu na Clínica Santa María de Santiago, para onde havia sido levado por razões de segurança quatro dias antes. Seu motorista foi detido e espancado pelos agentes da ditadura. Um avião do embaixador mexicano da época, Gonzalo Martínez, esperava Neruda para que viajasse no dia seguinte.

A perícia se concentrará em determinar se os restos de Neruda contêm algum tipo de toxinas ou substâncias médicas que possam ter acelerado sua morte, explicou o diretor do SML, Patricio Bustos.

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