Agência France-Presse
postado em 13/04/2013 12:20
Caracas - Grande êxito do governo de Hugo Chávez ou mero instrumento para conseguir votos e popularidade? Apesar das dúvidas sobre a gestão do líder venezuelano, os muitos programas sociais promovidos no país conseguiram reduzir a pobreza e serão mantido não importa quem vença as eleições presidenciais deste domingo."Eu não tenho dúvida de que um certo cretinismo que havia na política venezuelana de desviar seu olhar dos principais problemas da população acabou. Esse é o grande legado de Chávez", disse Luis Pedro Espanha, pesquisador e doutor em sociologia.
Desde 1999, o governo de Hugo Chávez alfabetizou adultos, aumentou o número de jovens matriculados em universidades, instituiu cuidados médicos em bairros pobres, generalizou as aposentadorias para os idosos, construiu casas e atendeu os direitos indígenas.
As chamadas "missões sociais" sustentaram muitas das vitórias de Chávez nas urnas. Estavam indissoluvelmente associadas a sua pessoa, financiadas pela venda do petróleo venezuelano e inspiradas em grande parte pelo líder cubano Fidel Castro.
"A luta contra a pobreza e a exclusão era o principal ponto da agenda do presidente. A qualidade de vida de muitos venezuelanos melhorou e eles passaram a se sentir dignificados como pessoas. Mas as pessoas não sentem que é o Estado que lhes proporciona isso, mas que Chávez era quem distribuía as aposentadorias ou bolsas de estudos, e isso é um destruidor institucional tremendo", declarou à AFP Margarita Lopez Maya, autora do livro "Ideias para a compreensão do socialismo do século XXI".
As estatísticas oficiais mostram que a pobreza na Venezuela caiu pela metade nos últimos 14 anos e gira em torno de 29% da população. "Mas quando você compara os enormes recursos econômicos que o governo utilizou e os resultados, fica claro que mais poderia ter sido feito se tivesse havido vontade política contínua e maior eficiência", ressaltou à AFP Marino Alvarado, chefe do Programa Venezuelano de Educação-Ação em Direitos Humanos (Provea).
Segundo dados do Provea, o período em que houve a maior redução da pobreza foi em 2005, entre o referendo revogatório no qual Hugo Chávez saiu vitorioso e as eleições presidenciais de 2006, e antes das eleições presidenciais de outubro de 2012.
A vontade de lutar contra a pobreza "sempre esteve ligada às necessidades políticas do governo, que tinha que se traduzir em votos", segundo Alvarado. Para López Maya, a estratégia do governo tem sido dupla: o engajamento social e combate às desigualdades eram verdadeiras, mas as missões tiveram como pano de fundo o desejo de "Chávez permanecer no poder para sempre".
"As missões são como um Estado paralelo, um projeto pessoal de Chávez. Além disso, fatores como o chamado ;status comunal; são claramente cubanos e que não tem qualquer base na realidade venezuelana", acrescentou a especialista.
Um estudo realizado pelo centro de pesquisa venezuelano Gumilla em 2011 entre os setores populares da Venezuela concluiu que 21% dos destinatários das missões estão muito satisfeitos com eles, 27% estão "satisfeitos", 22% "pouco satisfeitos" e quase 28% insatisfeitos.
Agora, a grande questão é como esses programas sociais prosseguirão sem Chávez no comando do navio e em um contexto de déficit fiscal crescente na Venezuela.
O candidato chavista Nicolas Maduro e o opositor Henrique Capriles já afirmaram que estes programas vão permanecer após 14 de abril, mas especialistas destacam a necessidade de institucionalizá-los, melhor coordená-los com as autoridades e garantir que eles possam chegar a todos os venezuelanos que precisam, independentemente de quem ocupe o poder.
"A forma de gestão tem de mudar, porque tem sido muito pró-ativa e pouco transparente e isso só provoca ineficiência e corrupção", disse Espanha.
"Acredito ser mais fácil as missões acabarem se o chavismo permanece no poder porque a desordem dos gastos públicos do governo será difícil manter", apontou à AFP Ramón Guillermo Aveledo, coordenador da coalizão de oposição Mesa Unidade Democrática (MUD).
Nestes anos, o próprio Chávez foi obrigado a admitir que alguns programas sociais estavam desgastados e tinham falhas imperdoáveis. Em 2009, o presidente criticou o abandono de mais de 2.000 centros do Bairro Adentro, o programa dedicado à prestação de cuidados de saúde por centenas de médicos cubanos. "Não temos o direito de nos cansarmos ou descuidarmos. Nossa falha seria o fim dessa revolução", disse Chávez na época.