Agência France-Presse
postado em 13/04/2013 16:29
Ramallah - O primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, que apresentou sua renúncia neste sábado, ganhou respeito internacional ao sanar as finanças e melhorar a segurança nos territórios palestinos, mas fracassou no que mais prezava: criar um Estado.Depois de semanas de especulação, o economista de cabelos grisalhos, que acaba de completar 62 anos, utilizou seus últimos anos na política para tentar construir um Estado palestino de fato.
"O Hamas tem feito o seu trabalho, nós não", deixou escapar em novembro durante a apresentação de um documentário em Washington sobre a troca de mil prisioneiros palestinos por um soldado israelense, obtida em 2011 pelo movimento islâmico no poder na Faixa de Gaza, que defende a luta armada para "libertar a Palestina".
"Temos falhado. Eu represento esse fracasso", insistiu amargamente em entrevista ao jornal New York Times em fevereiro, explicando o fracasso de seus esforços para frear a ocupação e colonização israelense.
No entanto, elogiado pela comunidade internacional, que reconheceu seu trabalho para sanear as finanças da Autoridade Palestina, Salam Fayyad, nascido no norte da Cisjordânia e formado na Universidade Americana de Beirute e no Texas (EUA), conseguiu alcançar em parte o seu objetivo de "construir um Estado, apesar da ocupação, para desistir no fim", em um plano de dois anos lançado em agosto de 2009.
[SAIBAMAIS]
Em 2011, as instituições financeiras internacionais, incluindo o Banco Mundial, elogiaram o sucesso do trabalho deste ex-funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI), julgando a Autoridade Palestina capaz de administrar um Estado.
Titular da pasta de Finanças de 2002 a 2005, Fayyad, um independente, foi nomeado primeiro-ministro pelo presidente Mahmoud Abbas em junho de 2007, após o golpe do Hamas em Gaza e a expulsão por Abbas do governo dominado pelo movimento islamista.
Legado do "fayyadismo"
Conhecido por suas visitas de campo incansáveis, casado e pai de três filhos, residente de Jerusalém Oriental anexada por Israel, entregou-se de corpo e alma para lançar as bases de um Estado moderno e racional.
Mas a falta de progresso em direção a uma resolução do conflito, apesar da retomada das conversações de paz patrocinadas por Washington em setembro de 2010, empurrou suas conquistas a um vazio de significado.
Há dois anos, os problemas também se acumularam para Salam Fayyad. Em maio de 2011, este fumante inveterado sofreu um ataque cardíaco durante uma visita privada aos Estados Unidos.
Paralelamente, um acordo de reconciliação com o Hamas, que prevê a criação de um Executivo provisório não-partidário, permanece estagnado.
Depois disso, as etapas para obter a adesão da Palestina com o status de Estado na ONU levaram à sanções financeiras israelenses e americanas que complicaram sua tarefa.
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Em setembro, a agitação social na Cisjordânia, alimentada pela alta das commodities, atingiu diretamente o primeiro-ministro, que apareceu em grande parte isolado.
Em março, uma briga com o presidente Abbas, que o acusou de ter aceitado a demissão do ministro das Finanças, Nabil Qassis, degenerou em conflito aberto.
"Fayyad atingiu seu limite. O fayyadismo é uma outra questão", observou o artigo no New York Times, em fevereiro. "Foi uma nova maneira de pensar. E as ideias têm o poder de resistir", comentou Salam Fayyad.