Agência France-Presse
postado em 14/04/2013 22:24
Caracas - A Venezuela encerrou na noite deste domingo, com ;total tranquilidade;, a eleição para apontar o sucessor de Hugo Chávez na presidência do país.As seções eleitorais começaram a fechar às 18H00 local (19H30 Brasília), ao final de "um processo eleitoral que se desenrolou com total normalidade, com total tranquilidade", disse a funcionária do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) Sandra Oblitas, em entrevista coletiva minutos antes do fechamento das urnas.
Oblitas destacou que onde há filas as urnas permanecerão abertas até o último eleitor, admitindo que "um número importante de pessoas ainda não exerceu seu voto".
A divulgação dos resultados está prevista para o final da noite deste domingo.
No total, 19 milhões de venezuelanos estavam habilitados a votar neste domingo para eleger entre o ;chavista; Nicolás Maduro e o opositor Henrique Capriles o sucessor de Chávez, que permaneceu 14 anos no poder até ser derrotado por um câncer, em 5 de março passado.
O candidato ;chavista;, Nicolas Maduro, votou no oeste de Caracas confiante na vitória do ;legado de Chávez; e prevendo um "recorde de participação".
"Senti uma grande emoção durante todo o dia, uma grande tranquilidade, uma grande paz de espírito, tenho grande confiança nas pessoas, (...) tenho confiança infinita no que ele plantou, no que ele fez. Votei em sua memória", declarou Maduro em coletiva de imprensa após depositar seu voto.
"Serei presidente da República nos próximos seis anos, em nome do meu comandante Hugo Chávez".
"Muitas coisas ficaram para ser feitas. A história continua, o povo é a garantia. Ele nos deixou seu legado, seus sonhos pendentes".
Maduro, que votou com sua esposa Cilia Flores e ao lado de um de seus netos, explicou seus sentimentos no momento da votação, quando levou a mão ao seu coração e olhou para o céu. "A este pássaro que voa livre enviei o meu voto, votei por ele", contou, referindo-se à história relatada no início de sua campanha, quando disse ter visto um passarinho encarnado por Chávez.
Após votar, Maduro foi para o "Quartel da Montanha", onde estão os restos mortais de Chávez, para aguardar os resultados das eleições.
Capriles votou por sua vez no bairro de Las Mercedes em Caracas. "Pedi a nosso povo que o voto fosse em partes e assim tem sido (...) Agora espero uma avalanche, todos a votar".
O candidato também instou os opositores a denunciar qualquer "atropelo" que se detecte e assegurou que "os abusos" serão derrotados com votos, em alusão as supostas irregularidades cometidas pelos oficialistas, como boca de urna.
As eleições foram marcadas pelo luto dos chavistas e o culto ao presidente falecido e convertido quase numa figura religiosa.
Nicolás Maduro utilizou duas armas poderosas: o fato de que Chávez fez dele seu herdeiro político e por dispor da máquina chavista, com uma forte capacidade de mobilização eleitoral.
Maduro, colaborador fiel de Chávez desde o início da revolução bolivariana, prometeu continuar com o legado de seu mentor em prol dos mais desfavorecidos e manter seus populares programas sociais custeados pelas rendas petroleiras, apesar dos sintomas de esgotamento desse sistema.
Segunda oportunidade para Capriles
Frente ao herdeiro do homem forte que governou a Venezuela desde 1999, Capriles faz sua segunda tentativa presidencial em seis meses.
Governador do estado de Miranda (norte), 40 anos, ele perdeu em outubro passado contra Chávez por 11 pontos, apesar de obter o melhor resultado da oposição contra o presidente carismático, surpreendendo os observadores por conseguir mobilizar em massa seus seguidores e apenas dez dias de campanha.
Capriles aceitou lançar-se de novo à disputa, apesar de seus colaboradores alertarem que ele estava indo ;para o matadouro; - como ele próprio disse.
Os dois candidatos mantiveram um discurso mais agressivo e esse tom mais elevado evidenciou a divisão social que reina no país, alimentada nos últimos anos pelo discurso polarizador de Chávez, que traçou uma linha divisória entre ricos e pobres e decidiu que quem não estava com ele, estava contra ele.
Além da reconciliação nacional, o próximo presidente, que governará até 2019, enfrentará o desafio de uma economia totalmente dependente da renda petroleira e atingida pelo déficit público, a inflação, queda violenta da produção, a escassez generalizada e a seca de divisas, fora a insegurança que reina no país, com 16.000 homicídios em 2012, a maior taxa da América do Sul.
Cerca de 170 organizações internacionais acompanharam o processo eleitoral, entre elas o Centro Carter.