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Desconcertado, Maduro clama vitória diante dos simpatizantes de Chávez

Maduro venceu por 50,66% dos votos, contra 49,07% do líder opositor Henrique Capriles. O resultado foi considerado decepcionante para os chavistas

Na noite de domingo (14/4), o sucessor de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, levantou o punho e gritou: "missão cumprida, comandante". Mas o assombro era visível em seu rosto e no dos chavistas no Palácio de Miraflores, depois do anúncio da vitória para a presidência da Venezuela por apenas 1,6%. Uma multidão acompanhou em um telão o anúncio da presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, de que Maduro venceu por 50,66% dos votos, contra 49,07% do líder opositor Henrique Capriles, resultado decepcionante para os chavistas.

Vestido com um casaco com as cores da bandeira venezuelana, em um palanque nas proximidades do palácio presidencial, ele saudou a multidão ao lado da esposa, Cilia Flores, antes de retomar o microfone, acompanhado por funcionários do governo. "É um triunfo justo, legal, constitucional, que dá uma legitimidade revolucionária", disse, entre os aplausos dos seguidores de Chávez, todos vestidos de vermelho, a cor dos chavistas.



Filho de Chávez

Três meses antes de morrer, vítima de câncer, em 5 de março, Chávez pediu a seus seguidores que votassem no então vice-presidente Maduro caso ficasse inabilitado para governar ou morresse, para que ele levasse adiante a revolução. "Maduro é o filho de Chávez, o mais importante é que a pátria foi salva", disse Luis Escalona, de 28 anos. "O mais importante é que não voltarão", afirmou Argelia Salas, 32 anos, com certo desânimo.

Tentando esconder a decepção, Efrén Ramos, médico de 44 anos, destacou que a margem apertada é um exemplo da transparência do processo, pois reflete a divisão que prevalece no país. "Isto significa que na Venezuela há democracia. Muitas pessoas deixaram de votar, pois o comandante não está, mas a revolução segue", disse Ramos.



Antes do CNE anunciar os resultados, os chavistas se reuniram nas proximidades do Palácio Miraflores, à espera de Maduro, que aguardava o resultado no Quartel da Montanha, no bairro 23 de Janeiro, zona oeste Caracas, onde Chávez está sepultado. "A este povo hoje podemos dizer que tivemos um triunfo eleitoral justo, legal, constitucional", disse Maduro, durante o discurso. Mas com o passar do tempo, o clima ficou tenso. O tom da celebração mudou e muitos convidados deixaram o Palácio Miraflores visivelmente preocupados.

Dezenove milhões de venezuelanos estavam registrados para votar no domingo e eleger o presidente entre Maduro e Capriles, após 14 anos de liderança de Chávez, cuja revolução polarizou politicamente o país. O candidato governista ainda não havia concluído o discurso quando alguns simpatizantes deixavam o local.

A recontagem de 100% dos votos emitidos nas eleições presidenciais de domingo, exigida pelo candidato opositor venezuelano, Henrique Capriles, inclui a abertura de todas as caixas de votação que contêm os comprovantes físicos dos votos transmitidos de forma eletrônica ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Os resultados divulgados pelo CNE, que dão a vitória ao candidato do governo Nicolás Maduro com 50,66% dos votos, contra 49,07% de Capriles - uma diferença de apenas 235.000 votos -, são baseados exclusivamente na transmissão eletrônica, mas existe um comprovante de papel de cada voto.

No sistema eletrônico de votação utilizado na Venezuela, o eleitor vota em uma máquina que guarda em sua memória cada sufrágio para transmiti-los, ao fim da jornada eleitoral, à sala de totalização do CNE. Mas também imprime um comprovante físico do voto de cada eleitor em uma caixa.

Apuração de votos contestada

A recontagem solicitada por Capriles, e que também foi aceita por Maduro, é justamente de cada um dos comprovantes, a forma prevista para verificar o sistema eletrônico. Em condições normais, quando não há impugnação ou dúvidas sobre os resultados, são abertas apenas pouco mais de 50% das caixas que contêm os comprovantes físicos durante uma auditoria imediatamente posterior à votação, que é aberta ao público e na qual as cédulas são contrastadas com as atas emitidas por cada máquina.

Um dos cinco diretores do CNE, Vicente Díaz, que já denunciou abusos do governo durante a campanha, pediu ao organismo uma auditoria para comprovar se 100% dos votos eletrônicos em poder do Conselho coincidem com os comprovantes físicos.

O advogado constitucionalista e assessor de Capriles, Gerardo Blyde, afirmou que o processo de comprovação é necessário, independente do prazo, pela pequena diferença entre os candidatos. Ele disse que a oposição se prepara para impugnar oficialmente o resultado eleitoral.