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Detento em Guantánamo conta sobre torturas sofridas em prisão

Samir Naji al-Hasan Moqbel afirma que perdeu mais de 13 quilos desde que começou uma greve de fome, no dia 10 de fevereiro. Ele é prisioneiro a mais de uma década sem ter sido acusado de nenhum crime

Washigton - Um prisioneiro detido em Guantánamo por mais de uma década sem ter sido acusado de nenhum crime falou nesta segunda-feira sobre sua participação em uma greve de fome que já dura quase dois meses na prisão administrada pelos Estados Unidos.

[SAIBAMAIS]Em um artigo publicado pelo New York Times intitulado "Gitmo (Guantánamo) está me matando", Samir Naji al-Hasan Moqbel afirma que perdeu mais de 13 quilos desde que começou uma greve de fome, no dia 10 de fevereiro, e que outro prisioneiro atualmente pesa apenas 34 quilos. "Nunca vou esquecer a primeira vez que eles colocaram o tubo de alimentação por meu nariz. Não posso descrever quão doloroso é ser forçado a se alimentar desta maneira", destacou Moqbel, de 35 anos.



"Duas vezes por dia eles me prendem a uma cadeira em minha cela. Meus braços, pernas e cabeça são amarrados. Eu nunca sei quando eles virão. Algumas vezes eles vêm durante a noite, às 23H00, quando estou dormindo". "Há tantos de nós em greve de fome agora que não há membros da equipe médica suficientes para realizar as alimentações forçadas... Eles estão alimentando pessoas o dia todo apenas para prosseguirem".

Moqbel afirmou ter viajado do Iêmen ao Afeganistão em 2000 em busca de trabalho, fugindo para o Paquistão durante a invasão americana no ano seguinte, onde foi detido e aprisionado em Guantánamo. Como muitos dos prisioneiros em greve de fome, ele nunca foi acusado por nenhum crime ou julgado, e não é visto como uma ameaça para a segurança nacional americana.

Mas ele não pode ser libertado devido a uma moratória sobre a repatriação de iemenitas promulgada pelo presidente Barack Obama em 2009, depois que um complô para derrubar um avião no dia de Natal foi ligado ao braço iemenita da Al-Qaeda. A greve começou quando os prisioneiros alegaram que funcionários da prisão revistaram seus exemplares do Alcorão de forma desrespeitosa. As autoridades negaram qualquer profanação ao livro sagrado do Islã.