Agência France-Presse
postado em 15/04/2013 15:49
Caracas - O governista Nicolás Maduro será proclamado nesta segunda-feira (15/4) presidente eleito da Venezuela, apesar das exigências feitas por uma fortalecida oposição de uma recontagem de votos, dando início à era pós-Chávez em um país radicalmente polarizado, envolvido em incerteza e sob pressão internacional.
O ministro da Informação, Ernesto Villegas, convocou através de sua conta no Twitter a "acompanhar Nicolás Maduro em seu ato de proclamação como nosso Presidente Eleito" na Praça Caracas, no centro, às 18h30 GMT (15h30 de Brasília. "Viva Chávez", concluiu em sua mensagem.
"Há um Presidente ilegítimo! O Povo Venezuelano tem o direito de auditar as eleições e de que a verdade seja conhecida", escreveu em sua conta no Twitter Capriles, que acrescentou que as ações da oposição serão anunciadas em breve.
[SAIBAMAIS]Maduro, o sucessor de Chávez, ganhou a Presidência com 50,66% dos votos contra 49,07% de Capriles - uma diferença absoluta de 235.000 votos - segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que considera a tendência irreversível.
Os Estados Unidos consideraram nesta segunda-feira a realização de uma auditoria como um "passo importante, prudente e necessário", segundo o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Já o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, expressou seu apoio à recontagem de votos e ofereceu a equipe de especialistas eleitorais dessa organização, enquanto aliados do governo venezuelano, como Cuba, Bolívia, Argentina, Nicarágua, Rússia, Belarus e Equador saudaram a vitória de Maduro.
Após o anúncio do CNE, Maduro, ex-motorista de ônibus e ex-sindicalista de 50 anos, afirmou na noite de domingo que sua vitória era legal, mas concordou que seja feita uma auditoria para que não reste dúvidas sobre os resultados.
Capriles, governador do estado de Miranda de 40 anos, afirmou no domingo, por sua vez, que não reconhecerá os resultados "até que se conte cada voto dos venezuelanos, um por um", o que levaria à abertura de todas as urnas que contêm os comprovantes físicos dos votos transmitidos de forma eletrônica.
Maduro deve tomar posse na próxima sexta-feira e completar o período de seis anos de Chávez, iniciado no dia 10 de janeiro após sua vitória sobre Capriles nas eleições de outubro, por 11 pontos de vantagem, equivalentes a 1,6 milhão de votos.
"Estamos em uma situação muito delicada. A margem é tão estreita que em um país que está extremamente polarizado é difícil de engolir politicamente (...) Somos matematicamente duas metades", declarou à AFP o sociólogo e analista político Ignacio Avalos.
Nenhuma pesquisa havia previsto um resultado tão estreito e as últimas estimavam que a vantagem de Maduro chegava a 10 pontos.
Calma aparente
O país estava nesta segunda-feira em uma calma aparente, sem informações sobre incidentes, mas a tensão e a incerteza eram sentidas nas ruas, à espera dos passos a serem seguidos por Capriles e Maduro.
"Queremos uma revisão da votação para que possamos (...) estar certos de que perdemos. As pessoas votaram por um morto, não pelo incapaz", disse à AFP Oswaldo Gómez, um contador de 56 anos, que debatia com amigos os resultados da eleição de domingo, diante de uma banca de jornais no bairro de Chacao.
O choque dos chavistas era evidente: "Tínhamos que ter vencido por mais votos, isso quer dizer que muitas pessoas que estavam com Chávez não quiseram votar em Maduro ou votaram em Capriles. Será que as pessoas ainda não confiam em Maduro?", expressou à AFP Aurelio Mendoza, um funcionário público de 33 anos.
Os desafios
Após 14 anos de hiperliderança de Chávez, Maduro herda uma Venezuela, além de radicalmente dividida em duas, com uma economia totalmente dependente da renda petroleira e das importações, atingida pelo déficit público, pela inflação, pela escassez de produtos básicos e pela falta de divisas.
Atacar a insegurança, que se traduziu em 16.000 homicídios em 2012, a maior taxa da América do Sul, também será uma das prioridades do próximo governo. Diferentemente de Chávez, que evitava este tema, Maduro propôs em campanha acabar com a criminalidade.
"Para o país se recuperar deverá ser convocado um governo de unidade nacional, o país não pode progredir enquanto o governo tiver um apartheid político", disse à AFP o analista Hernán Castillo.
Para Avalos, o "grande esforço (...) é como voltar a ser um país, com seus conflitos e contradições, com mecanismos de negociação. Aqui ninguém fala com ninguém", lamentou.
Seguidores, e inclusive opositores, reconhecem que Chávez deu visibilidade aos pobres e impulsionou os programas sociais que diminuíram a pobreza de 50% há 14 anos para 29% atualmente, segundo números da Cepal. Os críticos lamentam, no entanto, que tenha criado uma exclusão política e utilizado estes programas para angariar votos.
Equilíbrio cívico-militar
As Forças Armadas, segundo os analistas, são importantes em meio a esta incerteza, dado o poder que têm na estrutura do governo - 11 de 23 governadores são militares.
"Refletem o que é o país, o que é a sociedade venezuelana. Estão divididos. Há uma luta entre os que estão tentando transformar as Forças Armadas no braço armado do Partido Socialista Unido da Venezuela e a outra parte que defende sua missão institucional", afirmou Castillo.
A manchete desta segunda-feira do jornal econômico El Mundo é uma mostra muito eloquente da situação vivida pelo país quarenta dias após a morte de Hugo Chávez: "Estabilidade do país passa por quartéis militares".