postado em 17/04/2013 16:19
Londres - "Maggie, lixo", gritavam alguns manifestantes durante a passagem do cortejo fúnebre de Margaret Thatcher, enquanto na rua em frente, veteranos das Malvinas com suas boinas vermelhas e medalhas, aplaudiam espontaneamente a procissão puxada por cavalos pretos.O funeral da ex-primeira-ministra britânica ilustrou as divisões que persistem na sociedade britânica sobre o legado da Dama de Ferro, que deixou o cargo há 23 anos. "Queime no inferno", dizia uma mulher sob aplausos. "Filha da puta"; "Maggie, Maggie, Maggie, morta, morta, morta"; "Se Maggie não estivesse morta, eu a enforcaria", gritavam outros.
"Que desperdício de dinheiro", reclamava um grupo de uma centena de pessoas próximo aos soldados dos três forças armadas que carregavam o caixão. "Estamos gastando 10 milhões de libras (15 milhões de dólares) neste funeral", se indignou Casper Winslon. "É vergonhoso e inaceitável em tempos de austeridade", considerou esta estudante de Antropologia, de 22 anos, exibindo uma faixa com os dizeres "Descanse com a gente na miséria."
[SAIBAMAIS]"Os conservadores tentam transformá-la em um ídolo, como Winston Churchill (primeiro-ministro durante a Segunda Guerra Mundial), quando na verdade ela criou muitas divisões no país", acrescentou. "Thatcher conseguiu acabar com toda a indústria" na Escócia, declarou Katie McDonald, médica de 30 anos e vestida de preto para a ocasião. "Como contribuinte, estou indignada por ter que pagar por isso".
Em um cartaz, uma jovem mãe com sua filha no carrinho de criança expressa um desejo: "Eu gostaria que suas ideias estivessem mortas". "Nos anos 80, eu literalmente congelei com a minha família", lembra Andrew Holder, engenheiro de 61 anos. "Nós tínhamos uma casa modesta e uma hipoteca a pagar. Entretanto, por causa de suas taxas de juros, que chegaram a aumentar em 15%, perdemos a casa". "É ultrajante pagar" por seu funeral quando "há milionários no governo".
Apesar de os opositores de Thatcher terem aproveitado o funeral para que suas vozes fossem ouvidas, a maioria das milhares de pessoas que se reuniram ao longo do percurso veio saudar uma "grande líder" e uma "mulher corajosa". "Podemos bater palmas como no funeral de Diana?", perguntou Anne Elliott, uma professora aposentada, antes de juntar-se a ovação respeitosa que saudou a passagem do caixão.
"Os aplausos em funerais são incomuns, mas ela era uma mulher extraordinária", disse, por sua vez, o ex-empresario de 74 anos Michael Almond. Anthea Wallendahl, maquiagem no rosto e um colar de pérolas, trouxe seu filho Casper, de 10 anos, para assistir a este "momento histórico".
"Eu cresci na década de 70, quando a eletricidade era disponível apenas três dias por semana" por causa das greves. "Não encontrávamos nada nos supermercados. A economia estava estagnada. Margaret Thatcher chegou ao poder, disposta a tomar decisões impopulares. Foi controversa, mas restaurou a estabilidade. Mostrou que as mulheres podiam ter acesso aos mais altos cargos", recitou de uma só vez.
E Colin Gault, que conseguiu um dia de folga no trabalho, acrescentou: "Ela nos devolveu o orgulho" com a vitória nas Malvinas, em 1982. Um pequeno grupo de amigos de cinquenta anos acompanhava a missa pelo rádio. Um coral com 2.300 convidados se reuniu na Catedral de St. Paul para cantar as músicas impressas na edição especial do The Times.
Um homem aproveitava a oportunidade para vender sob seu casaco, por cinco libras, o DVD do filme "A Dama de Ferro". No final da cerimônia, um veterano das Malvinas disse que ia "beber em honra a velha senhora".