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Cotas para mulheres em empresas alemãs é pedra no sapato de Merkel

Projeto de lei pretendia instaurar uma cota obrigatória de mulheres nos conselhos de administração, até conseguir 40% de representação feminina até 2023, mas foi rejeitado por 320 votos contra 277 a favor

Agência France-Presse
postado em 18/04/2013 20:22
Berlim - O Bundestag alemão rejeitou nesta quinta-feira a introdução de cotas para as mulheres em postos de responsabilidade nas empresas, apresentado pela esquerda, o que dividiu o partido da chefe de governo Angela Merkel.

Apresentado no Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento) pelos social-democratas do SPD e os Verdes, o projeto de lei pretendia instaurar uma cota obrigatória de mulheres nos conselhos de administração, até conseguir 40% de representação feminina até 2023, mas foi rejeitado por 320 votos contra 277 a favor.

Até o último momento, a oposição esperava ampliar o apoio dos deputados e, sobretudo, das deputadas ligadas a Merkel. "Apelo para sua valentia, razão e honra", pediu Frank-Walter Steinmeier, o chefe do grupo social-democrata no Bundestag.

Os Verdes chegaram a apresentar, no último momento, uma versão modificada do projeto, com um objetivo menos ambicioso, esperando atrair cerca de 25 dissidentes que no começo dessa da semana ameaçavam transformar a votação em uma humilhação para o governo. Segundo alguns meios de comunicação, o assunto representaria inclusive uma ameaça para a própria coalizão governamental.

Katrin G;ring-Eckardt, figura dos Verdes, definiu o resultado como "enorme decepção para todas as mulheres do país".

No ano passado, na Alemanha, as mulheres representavam apenas 4% dos conselhos de administração das 200 maiores empresas, em um país onde 68% das mulheres trabalham e onde um terço dos deputados são mulheres.



"Se as coisas continuarem avançando no ritmo atual, teremos que esperar até meados do século" para que as mulheres possam influenciar na economia, lamentou Steinmeier.

Esta opinião é compartilhada por algumas mulheres de direita. Uma das maiores defensoras das cotas reguladas por lei é a popular ministra do Emprego, Ursula von der Leyen.

Próxima à chanceler, ela reconheceu na terça-feira que fez um grande esforço para ceder em um assunto muito importante para ela, segundo deputados da CDU. Persona non grata para muitos de seu partido a partir de agora, ela se recusou a falar na Câmara nesta quinta-feira.

"Às vezes é preciso fazer o contrário do que se quer para alcançar o que se quer", disse a deputada conservadora Rita Pawelski no Parlamento.

No momento em que Merkel se prepara para a campanha das legislativas de 22 de setembro, em busca de seu terceiro mandato, a divisão de suas fileiras em um assunto tão emblemático não foi muito bem visto.

Para tranquilizar os deputados e evitar o enfrentamento, a direção da CDU/CSU, que se opôs às cotas, aceitou na terça-feira incluir no programa do partido uma cota obrigatória de 30% de presença feminina nos conselhos de administração para 2020.

Muitos conservadores não tiveram tempo para criticar este compromisso, denunciado pela oposição como um idealismo.

Michael Fuchs, vice-presidente da CDU, afirmou que o "Estado não deve interferir" na composição do conselho de administração, em uma entrevista ao jornal Handelsblatt.

A mudança do partido é "incompreensível", disse Bertram Brossardt, presidente da Federação da Economia Bávara. "Não precisamos de cotas", afirmou.

A própria chanceler não defende com muito entusiasmo a nova linha. "O CDU se preocupa há tempos com este assunto", explicou sem muita convicção em uma entrevista ao diário Bild na quinta-feira, "e como chefe deste partido o levo a sério se isso afetar meus colegas".

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