Roma - A caótica eleição do chefe de Estado italiano por parte do Parlamento pode ser resolvida neste sábado com a reeleição do atual presidente da República, Giorgio Napolitano, que aceitou submeter sua candidatura por responsabilidade perante o país.
Os líderes dos maiores partidos políticos, com exceção do Movimento Cinco Estrelas do comediante antissistema Beppe Grillo, solicitaram a Napolitano, um ex-comunista que em junho completa 88 anos, que aceite seguir como presidente devido ao impasse político no qual a Itália se encontra.
"Considero um dever confirmar minha disponibilidade diante dos pedidos recebidos", afirma o comunicado divulgado pela chefia de Governo.
A decisão do atual chefe de Estado, cujo primeiro mandato termina no dia 15 de maio, é inédita, já que se trataria da primeira vez na história da península que um presidente da República é reeleito.
A sexta rodada de votações no Parlamento, na qual participam 1006 eleitores, começou na tarde deste sábado e deve durar cerca de quatro horas.
O veterano ex-comunista, que em sete anos de mandato precisou resolver complicadas crises políticas, aceitou o pedido, embora não se saiba se impôs condições como a formação de um governo que consiga aprovar a reforma da controversa lei eleitoral.
"O sentimento de responsabilidade perante a nação me impulsiona e confio em uma análoga responsabilidade coletiva", afirma a nota ao se referir às votações no Parlamento.
A caótica eleição do chefe de Estado italiano por parte do Parlamento, que desde quinta-feira se reúne duas vezes por dia para votar, significou uma dura derrota para o Partido Democrático, à beira da implosão e do suicídio político.
A terceira economia da Eurozona encontra-se à deriva, diante da pior crise política da história republicana.
Itália encalhada
[SAIBAMAIS]"A Itália está encalhada. Não apenas falta uma maioria e um governo ao país, mas também é incapaz de eleger o chefe de Estado", sustenta em um editorial, o jornal La Repubblica sob o emblemático título de "O naufrágio".
Os 1006 eleitores italianos cumpriram o ritual neste sábado de se reunir no Parlamento para a quinta rodada de votações destinadas a eleger o presidente da República, na qual dominou o voto em branco.
As duas maiores formações políticas de esquerda e direita optaram pelo voto em branco para ganhar tempo e abrir complicadas negociações entre as forças políticas com a intenção de acalmar o clima tenso diante das duas derrotas da esquerda, vencedora parcial das eleições legislativas do fim de fevereiro, mas incapaz de apresentar um candidato que alcance o consenso por suas divisões internas.
O caos reina no Partido Democrático (PD) depois que o ex-primeiro-ministro Romano Prodi, entre seus líderes mais prestigiados, saiu queimado na sexta-feira pela traição de 101 parlamentares do próprio partido, contrários à liderança de Pier Luigi Bersani e a sua incompreensível linha política.
"Um em cada quatro é um traidor", reconheceu Bersani após anunciar sua dramática renúncia.
A guerra sem piedade entre correntes no PD foi definida como "canibalismo cego" pelo jornal Il Fatto Quotidiano, que o chama de "suicídio coletivo".
"É imperdoável que este partido tenha envolvido milhões de eleitores e militantes em suas decisões para que acompanhem agora um tipo de vingança tribal cometida durante a eleição do novo presidente da República", escreveu o fundador do jornal, Antonio Padallaro.
Com um país sem maioria clara, dividido em três partes irreconciliáveis após as eleições legislativas celebradas há 52 dias, os líderes da esquerda, da direita e do centro pediram neste sábado ao atual presidente da República para que permaneça no cargo.
Embora possam ocorrer surpresas, é possível que Napolitano seja eleito na sexta rodada de votações ainda neste sábado.
Por sua vez, o comediante antissistema Beppe Grillo, do rebelde Movimento Cinco Estrelas, mantém a candidatura do prestigiado intelectual Stefano Rodotá, apoiada por um setor da esquerda.