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Novo ministro venezuelano pode "flexibilizar" controle cambial

Nicolás Maduro confirmou os principais ministros em seus cargos dois dias depois de assumir como presidente

Agência France-Presse
postado em 22/04/2013 20:40
Caracas - A nomeação para o Ministério das Finanças de Nelson Merentes, atual diretor do Banco Central da Venezuela e considerado uma figura pragmática dentro do chavismo, poderia significar uma "flexibilização, embora não uma mudança" do modelo econômico vigente, baseado no controle cambial, opinam analistas.

No domingo, dois dias depois de assumir como presidente em Caracas, Nicolás Maduro confirmou os principais ministros em seus cargos, mas fez uma mudança que pode trazer novos ares à errática economia do país: dividiu em dois o ministério do Planejamento e Finanças, com Jorge Giordani no Planejamento e Merentes nas Finanças.

Para o analista Luis Vicente León, presidente da Datanálisis, a ideia do herdeiro político de Hugo Chávez ao tirar do Ministério das Finanças Giordani, criador em 2003 do férreo controle cambial, é facilitar o tão complexo acesso a divisas para empresários e para a população.

Giordani, um veterano do chavismo conhecido por seu estilo austero, propôs, há 10 anos, os controles para frear a fuga de capitais depois do golpe contra Chávez em abril de 2002.

O controle cambial é a base da "crise que o país está vivendo e explica de forma mais contundente a queda da produção e dos investimentos, a elevada inflação e o desabastecimento que o país viveu e que tem claro impacto na popularidade do governo", explicou León à AFP.

Nesta década, o governo restringiu cada vez mais a entrega de divisas aos empresários e à população, que devem realizar pesados trâmites para obtê-las, a uma taxa oficial, em organismos como a Comissão de Administração de Divisas (Cadivi) e o Sistema Complementar de Administração de Divisas (Sicad).

Os trâmites e as restrições também atrasam as importações, gerando escassez de produtos básicos como açúcar ou farinha e matérias primas, o que pressiona a inflação, de 20,1% em 2012, a taxa oficial mais alta da América Latina.

Tantas distorções econômicas criaram, além disso, uma forte escassez de divisas nos últimos meses, inclusive pelos entes oficiais, uma situação que os analistas consideram urgente resolver.



Merentes, que já dirigiu o Ministério das Finanças em duas ocasiões (2001-2002 e 2004-2007), "sabe que é preciso fornecer divisas ao mercado para garantir o abastecimento (de alimentos) e tem melhores relações com o setor privado", explica León.

Isso implica "uma oportunidade de abertura sem necessidade de eliminar o controle cambial", acrescenta.

"O modelo não vai mudar. Podemos ver uma maior flexibilidade nos controles de câmbio, um melhor funcionamento do Cadivi e do Sicad para melhorar toda a situação do desabastecimento de produtos básicos e a inflação", que são duas das causas da dramática queda de 700.000 votos de Maduro nas eleições de 14 de abril, o que quase lhe custou a presidência, explica o economista José Luis Saboin, da Ecoanalítica.

"Merentes - um doutor em Matemática formado em Budapeste - é bem visto pelos mercados internacionais, pelo setor privado nacional", diz Saboin, acrescentando que, quando Merentes esteve nas Finanças, não havia tanta diferença entre o dólar oficial e o dólar paralelo "como agora", em que a divisa no mercado negro quase quadruplica a taxa de 6,3 bolívares por dólar.

Saboin também destaca que o déficit público, que agora se aproxima de 15% do PIB, era muito menor na gestão de Merentes.

Giordani, engenheiro elétrico pela Universidade Central de Venezuela (UCV), se manteve à frente dos órgãos de Planejamento do país desde o começo do governo de Chávez em 1999, com exceção de dois períodos sabáticos em 2002 e em 2008, e é o executor das cinco desvalorizações que o país viveu desde 2003.

"É uma peça interessante de equilíbrio, independente de ser radical no manejo da economia. Ele pode evitar aumentos brutais da dívida", explicou León, justificando a permanência do ministro.

Giordani, a quem chamam de "o monge" por sua austeridade e capacidade de trabalho, "funciona como um muro de contenção para evitar que facções do chavismo se apossem de recursos econômicos, para controlar a corrupção e evitar o descontrole de certas instâncias do Estado", disse Saboin.

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