Agência France-Presse
postado em 23/04/2013 17:18
Kirkuk - Uma série de confrontos entre forças de segurança iraquianas e manifestantes deixou, nesta terça-feira (23/4), pelo menos 53 mortos e levou dois ministros sunitas a renunciar ao cargo.Os embates desta terça, que também incluíram o sequestro de um soldado por parte de manifestantes armados, registraram o maior número de mortos nos protestos nas áreas sunitas deflagrados há quatro meses. Os manifestantes exigem a renúncia do primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, além de criticar os supostos ataques do governo a sua comunidade.
[SAIBAMAIS] A confusão começou ao amanhecer, quando as forças de segurança entraram em uma área onde os protestos têm acontecido desde janeiro, perto de Hawijah, na província de Kirkuk, informaram oficiais do Exército. Segundo essas fontes, o saldo seria de 27 mortos e cerca de 70 feridos.
Um dos oficiais, um brigadeiro-general da Divisão do Exército responsável pela área, declarou que o alvo da operação eram os militantes sunitas de um grupo conhecido como Exército Naqshbandiya, e que as forças de segurança abriram fogo somente depois de terem sido atacados.
Um segundo oficial disse que 34 rifles de assalto Kalashnikov e quatro metralhadoras PKM foram apreendidas no local. Dois soldados foram mortos, e sete ficaram feridos na operação. O número restante de vítimas inclui militantes e simpatizantes, de acordo com os oficiais.
Os manifestantes insistiram, porém, que foi o Exército que provocou o embate. Forças de segurança "invadiram nosso local de protesto, queimaram as barracas e abriram fogo indiscriminadamente, matando e ferindo dúzias de manifestantes", denunciou o líder do protesto em Hawijah, Abdulmalik al-Juburi. "Nós temos apenas quatro rifles para nos protegermos aqui, e não havia nenhum procurado (pelas autoridades) entre nós", acrescentou.
A violência do amanhecer provocou ataques de represália. Pelo menos 13 atiradores foram mortos em pontos de controle do Exército em Al-Rashad e Al-Riyadh, na província de Kirkuk, divulgou o Exército. "Houve fortes confrontos, que levaram ao assassinato de 13 revolucionários contra a polícia do governo", disse Al-Juburi.
"Quando eles ouviram as notícias sobre os mortos e feridos no nosso protesto pacífico, filhos das tribos de todas as cidades de Kirkuk tomaram as estradas e atacaram pontos de controle e quartéis-generais e tomaram o controle de alguns desses postos por um curto período de tempo", completou.
Manifestantes armados mataram seis soldados iraquianos e sequestraram um sétimo, perto de Ramadi, oeste de Bagdá, além de queimarem dois carregadores blindados. O soldado foi levado para o local do protesto, informou o primeiro-tenente da polícia Ibrahim Faraj.
Atiradores também atacaram pontos de controle na área de Sulaiman Bek, na província Salaheddin. Nesses confrontos, cinco soldados iraquianos e um atirador foram mortos, e outros seis ficaram feridos, disse Ahmed Aziz, membro de um conselho municipal local.
Dois ministros entregaram os cargos, em função da violência, elevando para quatro o número de ministros sunitas que renunciaram desde 1o de março.
"O ministro da Educação, Mohammed Ali Tamim, renunciou ao cargo, depois que as forças armadas iraquianas invadiram a área de protesto em Kirkuk", informou um oficial do gabinete do vice-primeiro-ministro Saleh al-Mutlak. Tamim é membro da Frente do Diálogo Nacional de Mutlak e é oriundo de Hawijah.
Mais tarde, o líder do Parlamento Osama al-Nujaifi declarou em entrevista coletiva que o ministro da Ciência e Tecnologia Abdulkarim al-Samarraie lhe disse por telefone que também entregaria o cargo.
O ministro da Agricultura Ezzedine al-Dawleh renunciou no dia 8 de março, depois que um manifestante foi morto no norte do Iraque, e o ministro das Finanças Rafa al-Essawi anunciou sua renúncia em um protesto contra o governo, em 1o de março.
Hoje não foi a primeira vez que protestos contra o governo no Iraque deixam vítimas fatais. Em 8 de março, forças de segurança mataram um manifestante na cidade de Mossul, e outros oito militantes foram mortos perto de Fallujah, oeste de Bagdá, em 25 de janeiro.
Também nesta terça, duas bombas explodiram quando fiéis sunitas concluíram as orações do amanhecer, no sul de Bagdá. Pelo menos quatro pessoas morreram e outras 14 ficaram feridas, de acordo com fontes oficiais.