Agência France-Presse
postado em 24/04/2013 20:36
Washington - Os rumores crescentes sobre o uso de armas químicas por parte do governo sírio, que começam a ganhar credibilidade entre alguns dos aliados de Washington, aumentam a pressão sobre o presidente Barack Obama. Recentemente, o chefe de Estado americano garantiu que esse recurso mudaria a maneira de abordar a situação.O governo dos EUA garante não ter "chegado a uma conclusão" sobre se esse tipo de armamento foi usado no terreno. Apesar de proibido por tratados internacionais, o governo de Bashar al-Assad reconheceu possuir grande quantidade desse material.
"É importante que façamos tudo o que for possível para vigiar, investigar e verificar qualquer declaração digna de fé, considerando-se as enormes consequências que isso pode ter para os sírios", declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, na terça-feira (23/4).
Em 20 de março, durante visita a Israel, Obama afirmou que a utilização de tais armas representaria "um grave e trágico erro" para Assad, que "muda(ria) as regras do jogo". Obama também se referiu a certas "linhas vermelhas" que não deveriam ser ultrapassadas por Damasco.
Na terça-feira, porém, o chefe do Departamento de Investigação e de Análise da divisão de inteligência do Exército israelense, general Ita; Brun, declarou que Assad estava "usando armas químicas na Síria", "aparentemente gás sarin". O militar disse se basear em fotografias tiradas no local.
"O regime empregou armas químicas letais contra os rebeldes durante uma série de incidentes nesses últimos meses", frisou, após avaliações similares apresentadas na ONU por França e Grã-Bretanha em março.
Ambiguidades
"Britânicos e franceses enviaram uma carta ao secretário-geral da ONU (Ban Ki-moon) em 21 de março para ;chamar a atenção; para as recentes acusações sobre o uso de armas químicas na Síria, provenientes de várias fontes", disse à AFP um funcionário do alto escalão do governo Obama, que pediu para não ser identificado.
Segundo a mesma fonte, "o emprego de armas químicas é muito difícil de confirmar em um entorno como o da Síria (...) Avaliações não confirmadas por parte de governos estrangeiros não podem servir de base para uma ação americana", frisou.
O secretário da Defesa dos EUA, Chuck Hagel, destacou que "as suspeitas são uma coisa, e as provas são outra". Em entrevista no Cairo, Hagel afirmou que "se trata de tema grave, e é preciso estar o mais seguro possível do que se diz", acrescentando que os EUA devem se basear "em suas próprias informações".
Gregory Koblentz, especialista em armamento não convencional no "think tank" americano Council on Foreign Relations, observou que "em uma situação ideal", para se chegar a uma "análise com alto nível de certeza" são necessárias "duas, ou três fontes independentes".
Esse não é o caso na Síria, onde o acesso ao terreno é difícil, e a cadeia de transmissão das informações não é confiável. "Não é surpreendente que diferentes países cheguem a conclusões diferentes", acrescentou o expert.
Para o especialista em Oriente Médio do Center for Strategic and International Studies (CSIS) Aram Nerguizian, "é preciso muito mais do que uma avaliação pouco confiável por parte dos franceses ou dos britânicos para que Washington inicie uma escalada de grande envergadura".
"Isso quer dizer que não haverá pressão (sobre o governo Obama) para agir? Não. Certamente, haverá pressões nos Estados Unidos, no Golfo, na Síria e na Europa", completou, na entrevista à AFP.
Ele ressaltou que Obama tem sido prudente na formulação de suas advertências à Síria. "Sua declaração sobre as ;linhas vermelhas; foi ambígua. A ambiguidade pode ser uma força, mas também uma fraqueza, se for percebida como geradora de dificuldades para o governo", que "deve resistir à tentação de deflagrar uma reação impensada", concluiu.