Agência France-Presse
postado em 28/04/2013 11:03
Roma - O novo governo italiano liderado pelo moderado Enrico Letta prestou juramento neste domingo, apoiado em uma inédita coalizão de partidos da esquerda e da direita com a qual pretende tirar o país da crise econômica e política, apesar da falta de experiência de vários de seus ministros.Letta, incumbido na quarta-feira pelo presidente Giorgio Napolitano de formar um governo e que aceitou esta função oficialmente no sábado, foi o primeiro a jurar sobre a Constituição. Foi seguido pelos 21 ministros de seu gabinete.
A cerimônia, que começou às 09h30 GMT (06h30 de Brasília), durou menos de meia hora, enquanto os meios de comunicação locais informavam sobre um, sede do governo, a 1 km de distância, que deixou dois carabineiros feridos.
Um dos carabineiros sofreu um ferimento no pescoço, o outro na perna. O autor do tiroteio também está hospitalizado. Uma bala atingiu de raspão uma pedestre, que recebeu atendimento médico.
O autor dos disparos é um calabrês (sul da Itália) de 49 anos que, segundo testemunhos recolhidos no local dos incidentes, se apresentou em frente ao Palácio Chigi vestido de terno e gravata, antes de abrir fogo a 5 metros de distância dos carabineiros.
"É o gesto de um louco desequilibrado", afirmou o prefeito de Roma, Gianni Alemanno, diante da imprensa. Os dois carabineiros feridos e a pedestre "não estão em estado grave", acrescentou.
Trata-se de um ato isolado de um desempregado que queria se suicidar, disse o novo ministro italiano do Interior, Angelino Alfano. Segundo o funcionário, "não há preocupação pela situação geral de ordem pública", embora tenha informado que "a vigilância dos alvos de risco foi reforçada".
"Ainda assim é muito preocupante (...). É preciso ver quem é esta pessoa, por que escolheu este momento e este local, não é uma coincidência", disse no canal Sky TG24 Fiorenza Sarzanini, jornalista do Corriere della Sera.
No entanto, o dia havia começado sob o sinal da esperança levando-se em conta o caráter inovador do governo Letta, fruto de uma aliança sem precedentes entre a direita e a esquerda, que se destaca por uma idade média relativamente baixa (53 anos, 10 anos a menos que o governo Monti) e por uma forte presença feminina (7 de 21).
O novo executivo, formado após dois meses de paralisia política, é resultado de uma divisão equilibrada, com nove ministros do Partido Democrata, principal grupo de centro-esquerda, cinco do Partido de Silvio Berlusconi, o Povo da Liberdade (direita), três centristas e quatro tecnocratas.
"Esta é a primeira tentativa explícita de pacificação da Itália" com a formação de uma "coalizão completamente inédita que deixa para trás 20 anos de inimizade" entre a direita e a esquerda, ressaltou o editorialista político do Corriere della Sera, Massimo Franco.
De acordo com a maioria dos analistas, este governo era - como afirmou o presidente Giorgio Napolitano - "o único governo possível" após as eleições legislativas de 24 e 25 de fevereiro, nas quais a esquerda ganhou a maioria absoluta na Câmara de Deputados, mas não no Senado, câmara sem a qual é impossível governar e que está dividida em três blocos: PD, PDL e o Movimento 5 Estrelas (M5S).
A sáida dos "bigs", os pesos pesados da política que tanto a direita quanto a esquerda buscavam impor, como o ex-primeiro-ministro de esquerda Massimo D;Alema ou o ex-ministro de direita Renato Brunett, também surpreendeu os editorialistas.
A falta de experiência de alguns ministros pode ser uma fraqueza, mas também uma força, segundo o diretor do La Stampa, Mario Calabresi, já que "serão julgados pelo que farão, e não por seu passado".
Antes do tiroteio, que ofuscou em parte a cerimônia, os italianos se mostravam otimistas.
Para Biagio, de 70 anos, este governo "era a única possibilidade para governar a Itália". Mas os novos ministros devem - segundo ele - fazer "coisas boas para o povo, e não apenas para os políticos" e, "sobretudo, eliminar seus privilégios", disse.
No entanto, vários jornais de esquerda, como o il Fatto Quotidiano, expressaram sua preocupação acerca da influência que Berlusconi poderia ter sobre o executivo, já que seu braço direito, o próprio vice-primeiro-ministro Alfano, é o número dois do governo.